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Seis em cada 10 estagiários não se sentem prontos para o mercado de trabalho

Pesquisa da Companhia de Estágios aponta que ansiedade e exigências dos processos seletivos abalam confiança de jovens; especialistas dão dicas para início de carreira

Por Marcos Leandro
Atualização:

O estágio é o momento em que o estudante pode colocar em prática o que aprendeu na faculdade e iniciar, assim, uma carreira na sua área. No entanto, segundo pesquisa da Companhia de Estágios, divulgada com exclusividade pelo Estadão, cerca de 60% dos estagiários ainda não se sentem preparados para o mercado de trabalho. O estudo mostra que esses jovens acreditam que faltam experiência (para 39,7% deles) e um currículo melhor (para 19,2%) para se tornarem mais competitivos.

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O levantamento “O perfil de estagiários e candidatos a estágio no Brasil — 2021” foi feito com 3.357 estudantes da base de dados da plataforma, que possui mais de 1,5 milhão de cadastrados no País. Entre eles, um terço respondeu à pesquisa que está no momento em busca de estágio.

Em meio à pandemia, essa busca é ainda mais complexa, uma vez que a queda na renda das famílias aumentou a ansiedade dos estudantes. O estudo mostra que o número de universitários pagando a própria faculdade cresceu 66% em relação a 2020. Essas questões financeiras impactam, inclusive, no motivo pela escolha do curso: na pesquisa do ano passado, 58% escolhiam uma graduação por vocação e 36% por oportunidades no mercado; agora, esses números são de 52% e 39%, respectivamente.

A confiança abalada entre esses profissionais em início de carreira tem algumas justificativas. “Os candidatos ao estágio falam que a maior insegurança é conseguir se apresentar e mostrar todo o potencial que eles têm em pouco tempo, então tem uma questão de ansiedade”, explica Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios. “Além do fato de os processos serem cada vez mais acelerados e online, tem a questão das exigências", completa.

Rafaela Stefanie, de 21 anos, é estudante do sétimo semestre de Relações Internacionais na PUC-SP. Foto: Werther Santana/Estadão

Para ele, esses jovens têm consciência de que o nível profissional exigido pelas empresas é grande e que, para conseguir uma vaga, é necessário estar preparado, com boa formação, cursos complementares e até experiências não formais. “Apesar de você não pedir experiência para um estagiário, conta muito quando a pessoa fez, por exemplo, um trabalho voluntário, se envolveu com alguma entidade acadêmica, participou de empresa júnior ou foi representante de sala.”

Essa preocupação também afeta Rafaela Stefanie, de 21 anos, estudante do sétimo semestre de Relações Internacionais na PUC-SP. Ela começou a procurar estágio no terceiro semestre e, na época, chegou a fazer algumas entrevistas, mas conta que a procura se intensificou nesse último ano. “Eu me inscrevia em todos os processos seletivos, às vezes sem nem ter os requisitos necessários para a vaga”, lembra.

O peso de receber um “não”

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Junto com essas várias tentativas de Rafaela vieram os nãos. “Comecei a me sentir chateada, como se estivesse sendo rejeitada. Acho que o pior era a comparação que eu fazia ao ver todos os meus colegas estagiando.” Os retornos negativos a fizeram perceber que não estava preparada para o mercado, mas também foram eles que a levaram a uma evolução. “Vi que estava competindo comigo mesma e que não podia deixar isso me afetar.” Agora, ela está pronta para iniciar, no próximo mês, seu primeiro estágio em uma empresa do Grupo Ultra. 

Os nãos também foram um problema para Gustavo Rodrigues, de 19 anos, estudante do quinto semestre de Relações Internacionais na UFABC. “Eu comecei a procurar estágio em maio por vários sites de vagas e também pelo LinkedIn. Fiz alguns processos e a principal dificuldade foi a rejeição, além do fato de muitas empresas não passarem um feedback, o que piora a ansiedade”, conta. 

Ele afirma que as mudanças nos processos seletivos também o prejudicaram. “Eu já havia feito entrevistas presenciais e acho que me dou melhor pessoalmente, pois consigo ter mais conexão com o entrevistador e me expressar de forma assertiva. No online, todas as entrevistas estavam sendo mais difíceis, além de questões técnicas como a internet que cai, a câmera que não é boa e o microfone que nem sempre ajuda”. Mas Gustavo conseguiu superar essas adversidades e agora é o mais novo estagiário da DSM.

Como enfrentar o mercado

Uma coisa que pode acabar aumentando a ansiedade entre os jovens é colocar no estágio expectativas para um futuro distante. “Antes mesmo de preparar o currículo para ser submetido a uma vaga, é importante refletir sobre o que você deseja para sua carreira neste momento. Tentar focar no agora e não no que você quer para daqui a 5, 10 ou 20 anos. Isso vai permitir, inclusive, entrar em um estágio aberto para a aprendizagem”, afirma Luciana Ferreira, professora de Gestão de Pessoas da Fundação Dom Cabral.

Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios. Foto: Germano Luders

“A gente costuma ver estudantes olhando para uma vaga de estágio como se fosse definidora de um futuro que é absolutamente incerto até para a própria empresa que está contratando.” Em vez de encher a cabeça com preocupações, ela aconselha formas mais interessantes de aproveitar a experiência, como a ampliação de rede de contato, a busca de aprendizado em uma área ainda não desenvolvida e a ampliação de conhecimento em outros setores do mercado.

Sobre as mudanças nos processos seletivos, ela afirma que é um caminho sem volta, mas existem formas de estar mais bem preparado para eles. “Há expectativas, pressão social e um contexto econômico nada amigável. Diante de todas essas incertezas, acaba faltando disponibilidade emocional e cognitiva. Por isso, exercícios de meditação e mindfulness podem ajudar o estudante a se sentir presente emocionalmente e cognitivamente para participar dessas seleções.”

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Já os retornos negativos farão parte, mas não são o fim do mundo, explica. “Um 'não' definitivamente pode te impactar e te deixar chateado. Mas a verdade é que a gente vai receber muito mais ‘não’ do que ‘sim’, na vida inteira. A melhor forma de aproveitar esses ‘não’ é tentar compreender os motivos e fazer uma correção nesses pontos.” 

Por fim, em relação às exigências do mercado, a professora elenca três soft skills essenciais para o mercado de trabalho: capacidade de aprender e continuar aprendendo (lifelong learning), autonomia e capacidade de trabalhar colaborativamente.

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