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Sustentabilidade emocional no trabalho: você sabe o que é isso?

Expressão, que ganha espaço com foco na saúde mental, demanda relação saudável entre líder e liderados; para especialista, não adianta empresa ter aula de ioga e exigir jornadas exaustivas

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

Muito se fala em sustentabilidade ambiental, que é o uso consciente dos recursos naturais para garantir a existência e a utilização deles no futuro. Conscientizar-se de que os atos do presente têm resultados no médio e no longo prazos é o início desse processo. No que tange a saúde mental no ambiente de trabalho, com os impactos trazidos não só pela pandemia, especialistas têm falado agora em sustentabilidade emocional

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O conceito nesse cenário é uma via de mão dupla, que funciona dentro de um ecossistema de carreira capaz de promover uma relação saudável entre líderes e liderados. 

“Sustentabilidade emocional é ter uma inteligência de como vou agir em todas as situações, principalmente de estresse e conflito, para que lá na frente eu tenha uma comunicação não violenta, um bem-estar, e eu possa me relacionar de boa forma com as pessoas. Agir de modo que, lá na frente, não vai me gerar estresse, ansiedade, burnout”, introduz Ligia Costa, fundadora da TGI Today, startup que desenvolve cursos e treinamentos sobre inteligência emocional para organizações e líderes.

Para que isso seja colocado em prática no local de trabalho, é necessário mútuo conhecimento de que lidar com pessoas é lidar também com as emoções delas. Entre funcionários, sofrem mais aqueles cujos líderes exercem pressão extrema. 

Uma pesquisa da consultoria Gallup sobre causas e curas do burnout entre colaboradores mostrou que as pessoas que dizem ter tempo suficiente, com frequência ou sempre, para realizarem seus trabalhos são 70% menos propensas a terem alto nível da síndrome de burnout.

Para Ligia Costa, fundadora da TGI Today, o papel da liderança é essencial para criar um ambiente acolhedor, que ouve o funcionário. Foto: TGI Today/Divulgação

Já as “causas raiz” para a condição, que têm maior efeito sobre o esgotamento profissional, são: tratamento injusto no trabalho, carga de trabalho não gerenciável, comunicação incerta dos gestores, falta de apoio do gestor e pressão de tempo não razoável. 

“Eu tenho uma pessoa que, em geral, é dedicada, se cobra muito, tem investimento de carreira e eu tenho uma empresa que quer aproveitar ao máximo essa pessoa. Mas, se usar todos os recursos dela, isso não é sustentável, pois está gastando tudo agora”, comenta o psiquiatra Eduardo Tancredi, diretor-médico da eCare Group e membro do comitê técnico da Aliança para a Saúde Populacional.

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Segundo o especialista, as empresas têm de pensar em promover um ecossistema que funcione adequadamente, com conscientização, prevenção e tratamento de doenças mentais. 

“A organização precisa ter a cultura de falar: tudo bem falar sobre saúde mental.” No ano passado, devido à pandemia, empresas aderiram a programas de bem-estar e ofertaram a seus funcionários serviços de psicoterapia. Mas nada disso dá resultados se não partir do exemplo da liderança.

“Existem ações afirmativas, mas mais do que isso, penso que o papel da liderança nunca foi tão importante, porque não adianta colocar aula de ioga e não criar limite com o time em termos de atividades. Se a liderança não olha para isso e não coloca limite, não é sustentável”, afirma Paula Morais, CEO e cofundadora da Intera, startup de RH focada em recrutamento digital. 

A empresa passou a oferecer benefícios aos funcionários e limitou o número de reuniões e entrevistas por dia. “Se a liderança só quer ter mais produtividade e gerar resultado, nada funciona. O ponto chave é conscientizá-la da importância de colocar limites e cuidar da saúde mental do time”, reforça.

O psiquiatra Eduardo Tancredi destaca a importância de um ecossistema organizacional em que se fale também sobre saúde mental. Foto: ASAP/Divulgação

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Ligia Costa, que também é especialista em liderança, inteligência emocional e propósito, corrobora a responsabilidade dos líderes. “Os grandes responsáveis, seja por trazer ansiedade ou felicidade no ambiente de trabalho, estão na liderança. É o topo que traz exemplo, que faz pressão, que dita as regras. Enquanto houver líderes retrógrados, que acreditam no comando e no controle, na pressão, no poder, está fomentando uma população de liderados doentes”, diz. 

A ideia que ela costuma levar é a de que os líderes também estão a serviço da equipe, não apenas no comando. Isso tende a fomentar pessoas psicologicamente seguras, com permissão para a vulnerabilidade, inovadoras e que sabem explorar e manejar suas emoções.

Sinergia entre líder e liderados

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O psiquiatra Eduardo Tancredi pondera que o desequilíbrio emocional dos funcionários é resultado de uma combinação entre o perfil da pessoa, que pode ter dificuldades de lidar com frustrações, e o da empresa, que não sabe lidar com a situação. Por isso, ele reforça a necessidade de um ecossistema em que todos estejam integrados. 

Porém, para Ligia, se o líder abre espaço para o diálogo e é mais equilibrado emocionalmente, “talvez equipe e liderados vão sentir abertura para conversar”. 

“No mercado de trabalho, se você não tem abertura desse ambiente seguro, formado por gestor e empresa, dificilmente vai dizer que precisa de ajuda e está sobrecarregado. Pelo contrário: ‘não entreguei no prazo, a culpa é minha, vou me criticar, não sou capaz’. É do indivíduo também essa autorresponsabilidade, reconhecer emoções”, diz a fundadora da TGI Today.

Para ela, o principal desafio para criar esse ambiente seguro é o medo. “A liderança funciona com pessoas ali o tempo inteiro, principalmente agora depois da pandemia, tentando sobreviver. É um mindset de competição, de que se o outro for promovido eu corro o risco de perder meu trabalho. Essa gestão de sobrevivência é separatista, individualista, a pessoa acha que não é parte de um todo”, afirma. 

Parte da solução, segundo Ligia, é o líder entender que está ali para servir e que os resultados dele e da empresa serão maiores quando a equipe estiver inserida. “Sair do medo, da disputa e da competição para liderar com mais colaboração, amor e servidão.”

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