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Com inflação e desemprego em alta, mudança no consignado pode ampliar calote

Lado positivo é a chance de trocar uma dívida mais cara do cartão por outra mais barata do consignado

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

A decisão do governo de aumentar de 30% para 35% a parcela da renda dos trabalhadores, aposentados e pensionistas da Previdência com o uso do crédito consignado foi avaliada de forma dúbia pelos especialistas em finanças pessoais. 

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Por uma lado, ao determinar que 5% desse limite esteja vinculado a pagamentos de dívidas do cartão crédito, a medida induz à migração de um financiamento mais caro, que é o cartão, para o mais barato, o consignado, o que é saudável. Por outro, o fato de permitir um comprometimento maior da renda global do brasileiro com financiamentos, num cenário de desemprego e de inflação em alta, aumenta o risco de inadimplência.

“Não entendi o objetivo dessa medida”, diz a economista-chefe da SPC Brasil, Marcela Kawauti. Na sua avaliação, cinco pontos porcentuais de aumento do comprometimento da renda com o consignado são insuficientes para impulsionar a atividade econômica, mas podem fazer um estrago maior no calote, sobretudo entre idosos.

Pesquisa da SPC Brasil mostra que, em maio, a inadimplência média do consumidor cresceu 6,7% em relação ao mesmo mês de 2014. E as faixas etárias que registraram os maiores avanços estão entre os brasileiros de 65 a 84 anos (9,1%) e de 84 a 94 anos (10,18%). A economista lembra que nessa faixa da população é muito comum o empréstimo do nome para a comprar a prazo, principalmente com cartão de crédito.

Uma pesquisa da Serasa Experian que acaba de ser feita confirma a incidência maior do calote entre os mais velhos. A fatia de brasileiros inadimplentes com mais de 61 anos atingiu 12,2% em maio deste ano. Era 11,8% no mesmo mês de 2014. “Quando se avalia a medida do ponto de vista da taxa menor de juros do consignado, ela é positiva. Mas pela maior fatia de comprometimento da renda, ela pode levar mais facilmente à inadimplência”, diz Júlio Leandro, superintendente da Serasa Experian.

Essa também é a opinião de Miguel de Oliveira, coordenador da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Administração. Ele ressalta que as pessoas não financiam apenas na linha de crédito consignado. Além disso, o aumento da inflação, que come uma parcela da renda, e do desemprego, o risco de calote aumenta. 

Estranheza. Oliveira diz que a decisão do governo é estranha porque recentemente a ampliação da parcela do consignado para 40% de comprometimento da renda foi vetada pelo governo. Procurada, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços não tinha porta-voz para avaliar a decisão do governo de “carimbar” 5% do consignado para usar com cartão.

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