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Dólar fecha em R$ 3,45 e atinge maior nível desde dezembro de 2016

Cenário externo, com a perspectiva de que os juros americanos vão subir mais que o esperado, fez a moeda disparar ontem em relação ao real; perspectiva é de que câmbio fique ainda mais instável até o fim do ano com a corrida eleitoral

Por Ana Paula Ragazzi e Douglas Gravas
Atualização:

A incerteza com as eleições de outubro e a perspectiva de aumento dos juros nos EUA já provocam volatilidade no mercado de câmbio, o que deve se acentuar nos próximos meses com o desenrolar da corrida eleitoral mais incerta dos últimos anos no Brasil. Na segunda-feira, 23, o cenário externo fez a moeda americana se valorizar em relação às moedas de países emergentes. Ante o real, o dólar à vista subiu 1,19%, fechando a R$ 3,4497. É a maior cotação da moeda desde 2 de dezembro de 2016. 

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Explicação para a valorização da divisa americana frente ao real é o receio do mercado financeiro de que o Federal Reserve (Fed), o banco central do Estados Unidos, eleve mais forte ou rapidamente a taxa básica de juros de país Foto: Epitácio Pessoa/AE

Um ambiente de maior volatilidade do câmbio é ruim para a economia: prejudica tanto o planejamento de empresas exportadoras e importadoras, que negociam usando a moeda americana como referência, quanto o da família que quer passar as próximas férias no exterior. 

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“A partir de agosto, o cenário interno vai pressionar mais o dólar que o externo”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “Mas nada parecido com 2002, quando o ex-presidente Lula foi eleito. As reservas internacionais estão altas e o País é outro.” + Presidente do Banco Central não acredita que haverá guerra comercial

A economista do Itaú Julia Gottlieb diz que os sinais que apontam para ambientes externo e interno mais instáveis são visíveis há cerca de um mês. “Nós tivemos um aumento da tensão comercial entre Estados Unidos e China, que impactou nas outras moedas. Também pesa a diferença menor entre os juros americanos e a Selic, os nossos juros básicos, o que torna o Brasil menos atrativo.” 

Hoje, o temor é de um aumento da inflação americana e, em seguida, a necessidade de o Fed, o banco central dos Estados Unidos, segurar os preços com uma alta maior dos juros, atualmente entre 1,5% e 1,75%, diz.+ 90% dos acordos superam a inflação

“A economia americana está perto do pleno emprego e continua contratando. Também há um estímulo fiscal grande. Imagina-se que isso dê algum gás, pressionando salários e preços e fazendo a inflação subir”, diz.

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Nesta semana, também serão divulgados dados de balanços de 180 companhias americanas. Confirmado o aquecimento da economia por lá, fica mais forte a expectativa de que o Fed eleve juros mais rapidamente.+ Queda de juro favorece portabilidade dos financiamentos imobiliários

Efeito. Nenhum dos analistas ouvidos pelo Estado aposta que o dólar se estabilize em um patamar maior que R$ 3,50 agora, mas dizem que é preciso observar a média trimestral da moeda. 

Se o dólar se mantiver em um patamar mais alto, pode haver um pequeno reforço nas exportações e um aumento da pressão na inflação, sobretudo por itens como combustíveis. 

O estrategista-chefe da XP Investimentos, Celson Plácido, ressalta, porém, que a inflação está baixa e controlada, com margem para crescer um pouco, sem susto. Ele diz que um bom termômetro são as outras moedas emergentes: a maioria delas reage da mesma forma que o real em relação ao dólar.+ Paim diz que MP da reforma trabalhista era para 'inglês ver' e sugere novo projeto

Quando se olha o desempenho das demais moedas de emergentes ou de outros países exportadores de commodities, no entanto, o real tem desempenho mais fraco. Entre janeiro do ano passado e abril deste ano, a moeda brasileira só não se desvalorizou mais em relação ao dólar que a lira turca, em uma cesta de 21 moedas. 

“O real cai um pouco mais pelas incertezas eleitorais. É como se todo mundo estivesse com a mesma febre, mas a temperatura do Brasil é um pouco mais alta”, diz Plácido.

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