BRASÍLIA - Um dia após milhares de brasileiros saírem às ruas para protestar contra a reforma da Previdência e enquanto o governo tenta se desvencilhar das citações na Operação Lava Jato, o Planalto correu para divulgar a retomada da criação de empregos formais em fevereiro. Em uma cerimônia inédita, a boa notícia foi anunciada pelo próprio presidente Michel Temer.
"Venho dar aqui, penso eu, boas novas. Vocês sabem que a economia brasileira volta a crescer e os sinais desse fato são cada dia mais claros", disse o presidente da República antes de anunciar, em tom de comemoração, a criação de 35.612 postos de trabalho no mês passado - o primeiro resultado positivo após 22 meses seguidos de aumento do desemprego. Apesar da festa, a reação ainda é bem pequena em termos proporcionais e a criação de emprego no mês passado ajudará apenas 0,2% do total de desempregados.
Pela primeira vez desde que assumiu o governo, Temer convocou jornalistas para anunciar resultados de emprego com carteira assinada no Brasil. Os dados do Caged vinham sendo divulgados somente pela internet. Quando havia alguma coletiva, quem participava era o ministro do Trabalho, fato que ocorreu pela última vez no governo Dilma, com o então ministro Manoel Dias.
O esforço em espalhar a boa notícia também é visível no calendário de divulgação. O dado sobre o mercado de trabalho relativo ao mês de janeiro foi conhecido apenas em 3 de março - há menos de duas semanas. No Ministério do Trabalho, técnicos trabalhavam com a expectativa de que os números de fevereiro seriam divulgados na próxima semana, apenas a partir de 20 de março. O anúncio, porém, foi antecipado por um pedido de última hora.
Ao lado do presidente Temer, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, comemorou a notícia e, apesar de o dado voltar ao positivo em apenas um dos últimos 23 meses, disse que o número revela "retomada, uma inversão da curva". "Estamos convictos de que, a partir de agora, vamos sempre ter dados positivos para apresentar", disse.
Nogueira rejeitou a avaliação de que ainda é cedo para falar em mudança de tendência. "Quem aposta que o Brasil não vai dar certo vai errar. Não é sempre que os analistas acertam", afirmou. "Nós observamos uma desaceleração no número de desempregados no País. Isso vem ocorrendo nos últimos meses."