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Somos Educação fecha acordo para venda de controle à Kroton por R$ 4,56 bi

Segundo a Kroton, a aquisição tem o objetivo de complementar a atuação no segmento de educação básica; negócio ainda está sujeito a aprovação do Cade

Por Dayanne Sousa
Atualização:

Dez meses após ter a fusão com Estácio barrada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Kroton anunciou ontem a segunda maior transação da sua história com a assinatura de contrato para a compra da Somos Educação, antiga Abril Educação. Conhecida por um apetite voraz nas fusões e aquisições que a transformou na líder do ensino superior, a Kroton vai incorporar agora um dos principais competidores do mercado de ensino básico no Brasil, dono dos sistemas de ensino Anglo e pH e das editoras de livros Ática, Scipione e Saraiva.

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O CEO da Kroton, Rodrigo Galindo Foto: Paulo Whitaker/Reuters

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Avaliada em R$ 6,2 bilhões, a Somos só perde em valor no portfólio angariado pela Kroton nos últimos anos para a Anhanguera que, em 2014, data da compra, valia mais de R$ 7 bilhões. Do valor total da Somos, a Kroton pagará R$ 4,6 bilhões para o antigo dono da companhia, a gestora de recursos Tarpon. O restante, deverá pagar aos minoritários em uma Oferta Pública de Aquisição (OPA). Após o anúncio, as ações ordinárias da Somos subiram 49,30%, para R$ 21,35 e os papéis da Kroton tiveram alta de 5,26%, para R$ 14,21. A conclusão do negócio, no entanto, depende mais uma vez do aval do Cade.

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O veto da autarquia à fusão com a vice-líder no setor de educação superior foi o que levou a Kroton a se dedicar a um plano de aquisições no ensino básico. Com menos espaço para crescer no seu principal segmento de atuação – o das faculdades –, o grupo se voltou para as escolas. Chegou a fazer uma pequena compra este mês, do Centro Educacional Leonardo da Vinci, nada que se compare à mudança de rumos que a incorporação da Somos representa.

No ensino superior, mercado em que a Kroton concentra hoje 97% de suas receitas, o crescimento das empresas tem sido desafiado pelo encolhimento do financiamento estudantil e pelas altas taxas de desemprego. Sem a possibilidade de fazer grandes aquisições, o ritmo de crescimento das receitas não poderia ser o mesmo de anos anteriores. Mesmo no ensino a distância, mercado dominado pela Kroton, há desafios para avançar porque o número de competidores vem crescendo após a decisão do Ministério da Educação de flexibilizar regras para novos entrantes. A Somos não é a empresa que mais tem alunos em escolas próprias: são 35 mil estudantes contra 48 mil do grupo SEB, do empresário Chaim Zaher. No entanto, a Somos tem um universo maior de negócios: são sistemas de ensino, editoras de livros didáticos, uma escola de ensino de idiomas (Red Balloon) e aplicativos com materiais digitais para estudantes. A Kroton calcula que, com a Somos, alcançará 3,6 mil escolas por meio da rede própria ou parceria de fornecimento de conteúdo. A sinergia entre os dois grupos é estimada em R$ 300 milhões.

Desafios.O desafio, na avaliação de analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, é que, apesar da diversificação, a Somos ainda tem uma parcela significativa de suas receitas vinda das editoras de livros. Elas respondem por 65% do negócio e, historicamente, o segmento de editoras de livros didáticos é tido como desafiador porque boa parte das vendas está atrelada ao governo federal, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

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Em conversa com investidores, analistas e jornalistas, a Kroton procurou minimizar o receio do mercado com o segmento. O vice-presidente acadêmico da empresa, Mario Ghio, destacou que o PNLD está crescendo em razão da incorporação dos livros de educação infantil e livros consumíveis, aqueles em que estudantes podem fazer anotações. Declarou ainda que a empresa espera ganhar fatia de mercado no setor privado e que não acredita que os livros didáticos feitos de papel deem lugar a livros digitais no futuro.

Outro ponto de atenção são os sistemas de ensino. Nesse negócio, a Kroton já atuava antes da aquisição por meio do sistema Pitágoras. Com a Somos, que tem os sistemas Anglo, pH, GEO, Maxi, Ético, entre outros, há uma sobreposição.

O presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, estimou que as duas empresas juntas detenham cerca de 20% do mercado de sistemas, algo que deve chamar atenção do Cade. Apesar disso, o executivo considerou que a sobreposição não é relevante e avaliou que o cenário hoje junto ao Cade é bem diferente daquele do ano passado, com a Estácio. “É baixíssimo o ‘overlap’ de atividades e isso reduz a complexidade da análise concorrencial.” 

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