EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Repórter especial de economia em Brasília

Bolsonaro quer pegar carona no 'orçamento de guerra' para abrir cofre para reeleição

Motivação do presidente Jair Bolsonaro em dar sinal verde para o anúncio de um programa visivelmente ainda inacabado tem dois focos: desviar atenção das mortes crescentes no Brasil pelo novo coronavírus e pegar também carona no orçamento de guerra

PUBLICIDADE

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes
Atualização:

Muitas vezes apontados por integrantes do governo como “bons planejadores”, os militares do Palácio do Planalto decepcionaram na quarta-feira, 22. Os sete slides de apresentação do lançamento programa Pró-Brasil viraram motivo de chacota pelo conteúdo vazio e a constatação de que o programa desenhado pela ala militar do governo, com a participação dos ministros de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, não passa, por enquanto, de um rascunho mal desenhado. 

O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, durante a entrevista coletiva que anunciou o programa Pró-Brasil. Foto: Dida Sampaio/Estadão

PUBLICIDADE

O quarto slide do powerpoint, intitulado “abrangência do programa", apresentado pelo ministro da Casa Civil, general Braga Netto, é um amontoado de setas e palavras desconectadas, sem nenhuma explicação.

Independente do debate legítimo sobre a necessidade ou não de o governo ser obrigado a dar um empurrão nos investimentos para ajudar na recuperação da economia pós-covid 19, a motivação do presidente Jair Bolsonaro em dar sinal verde para o anúncio de um programa visivelmente ainda inacabado tem dois focos. 

Em primeiro lugar, desviar atenção das mortes crescentes no Brasil pelo novo coronavírus. Mas o objetivo cirúrgico por trás do plano Pró-Brasil é pegar também carona no orçamento de guerra, Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em tramitação no Congresso, que dará a ele cheque em branco para gastos com a covid-19, para abrir o cofre do Tesouro e acelerar a volta do crescimento a tempo da campanha eleitoral de 2022. 

A urgência do Palácio do Palácio em dar uma cara e roupagem para o programa se justifica. O estado de calamidade pública, aprovado pelo Congresso, termina em dezembro. Até lá, o governo, com a justificativa de dar uma resposta aos efeitos da covid-19, poderá editar créditos extraordinários que ficam fora do teto de gastos – o entrave legal para a gastança em tempos de eleições. Não é por outra razão que, com o cofre cheio do governo e aparentemente sem limites para gastar, as tradicionais lideranças da velha política ensaiam uma aliança com Bolsonaro. É o cheiro do dinheiro. 

Publicidade

É um filme já visto nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que aproveitaram para estender as medidas adotadas para o enfrentamento da crise financeira internacional de 2008-2009 de olho na manutenção do poder.

A dúvida que fica até o momento é se o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai ceder espaço na sua política liberal de diminuição do Estado e maior participação do setor privado no crescimento para entrar no jogo.