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Crise fiscal não será resolvida com magia, diz Barbosa

Ministro defendeu autorização para o governo fechar o ano com rombo de até R$ 96 bi, e disse que economia está mais frágil 

Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Lu Aiko Otta , Eduardo Rodrigues e Rachel Gamarski
Atualização:

Em um dia decisivo para estabelecer os rumos do governo de Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, esteve na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado nesta terça-feira, 29, para dizer que, “à parte das questões políticas”, o grande problema no Brasil hoje é o desequilíbrio entre receitas e despesas. E que “não será eliminado num passe de mágica, qualquer que seja a solução política.”

O ministro falou aos senadores antes de ser anunciado o déficit primário de R$ 25 bilhões do governo central em fevereiro. Durante quatro horas, ele defendeu, no curto prazo, a autorização para o governo fechar as contas de 2016 com um “rombo” de até R$ 96,6 bilhões. Do contrário, o risco é afundar ainda mais a economia – que, admitiu, está mais frágil este ano do que em 2015. O corte de despesas de R$ 21 bilhões anunciado na semana passada, disse o ministro, se mostra “excessivo” em um quadro de retração econômica.

'Temos que adequar o ajuste fiscal à proteção do emprego e renda da população', diz Barbosa Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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Liberado, porém, de cortar mais os gastos, o governo poderá dar suporte à recuperação da economia, que já engatou uma “primeira marcha” com a melhora do saldo comercial e das contas externas. Poderá, por exemplo, concluir investimentos já em curso. “A resolução dos problemas na economia pode ajudar na resolução dos problemas na política”, pregou.

No médio e longo prazos, a solução passa por propostas como a criação de um teto para o gasto público e pela reforma da Previdência, disse. Ambos os temas são polêmicos e precisarão ser aprovados pelo Congresso, o que exigirá muito diálogo. “Se dermos tempo à democracia, a democracia resolve”, defendeu. “A boa notícia é que isso só depende de nós mesmos. A má notícia é que só depende de nós mesmos.”

Transparência. Convidado também a depor na comissão especial que discute o impeachment de Dilma para explicar as pedaladas fiscais, Barbosa atacou a gestão de seus antecessores: Guido Mantega, da qual ele próprio fez parte ocupando a posição de número dois, e Joaquim Levy. Foi na gestão de Mantega que as pedaladas se intensificaram.

Ao afirmar que o Brasil não está em situação de insolvência, mas passa por um momento de grande volatilidade, Barbosa explicou que busca restaurar a confiança “através de transparência e resultados.” É transparente, segundo ele, ao informar logo no começo do ano que há dificuldades em cumprir a meta fiscal e explicar por quê. No passado, a meta ia sendo ajustada ao longo do ano.

E apresenta resultados porque, em três meses à frente da Fazenda, resolveu uma série de pendências que vinham se arrastando: pagou contas atrasadas desde 2014 de subsídios devidos aos bancos oficiais, implementou uma lei de 2013 que mudou o indexador das dívidas dos Estados. E, se o Congresso autorizar a redução da meta fiscal, acertará o repasse do Fundo de Fomento às Exportações (FEX), que vem sendo pago aos Estados com um ano de atraso.

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Os senadores cobraram de Barbosa algum tipo de apoio aos municípios, nos moldes da ajuda dada aos Estados, que tiveram suas dívidas alongadas em 20 anos. O ministro explicou que eles foram beneficiados com a troca de indexador da dívida.

Haverá uma ajuda especial aos municípios fluminenses, afetados pela retração do setor de petróleo. Eles terão antecipada sua receita de royalties, a exemplo do que já foi feito com o governo do Estado.

Cobraram, também, a ampliação dos limites do Simples. Barbosa, porém, não se comprometeu. Um dos impasses é o novo teto das microempresas. Entre os novos limites há uma proposta para que o teto passe dos atuais R$ 360 mil para R$ 900 mil nas microempresas e das pequenas empresas passe de R$ 3,6 milhões para R$ 14,4 milhões. O ministro classificou uma elevação nesse patamar como “excessiva”.

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