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'Estou adorando a queda das ações', diz Luiz Barsi, o 'rei da Bolsa'

Em um dia, maior investidor pessoa física da Bolsa brasileira já gastou mais de R$ 10 milhões em 'pechinchas' que ele acredita que vão sobreviver ao coronavírus

Por Renato Jakitas
Atualização:

Na Quarta-Feira de Cinzas, 26, dia em que as empresas brasileiras amargaram prejuízo de R$ 290,2 bilhões em valor de mercado na Bolsa de São Paulo, a B3, o investidor Luiz Barsi, de 80 anos, esfregou as mãos e foi às compras. 

Apelidado de "Rei da Bolsa", ele passou o dia vasculhando o que chama de "oportunidades" e, no final do pregão, havia descarregado mais de R$ 10 milhões em cerca de 1 milhão de ações de empresas como Itausa, Braskem e Cielo - "pechinchas", segundo ele, que acredita que vão sobreviver ao surto do coronavírus pelo mundo.

O maior investidor pessoa física da Bolsa brasileira, Luiz Barsi. Foto: Christina Rufatto/Estadão - 12/8/2019

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"Você não pode se esquecer que o mercado de ações não é de risco, é de oportunidades. E, quando as oportunidades aparecem, você tem de comprar", disse ele, que também é presidente do Conselho de Economia do Estado de São Paulo (Corencon-SP).

Com mais de R$ 2 bilhões aportados em ações na Bolsa de São Paulo, ele desenvolveu há 46 anos o que batizou de Carteira de Previdência, que consiste em comprar ações que pagam bons dividendos para segurá-las, independentemente de sua cotação. Os dividendos são parte do lucro das empresas distribuído periodicamente aos acionistas. Geralmente, empresas que são boas pagadoras estão em estágio de crescimento avançado, não necessitando de tantos investimentos para financiar sua expansão.

A carteira de Barsi tem uma dúzia de empresas, que ele mantém há anos, algumas há mais de três décadas. “Eu não invisto em ações da Bolsa. Eu compro participações em empresas com bons projetos. Gosto de companhias tradicionais e só compro as ações quando os preços estão em queda, nunca em alta.” Para ele, dias como de quarta-feira são uma espécie de Black Friday do mercado financeiro. "Estou adorando a queda das ações." Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

A queda da Bolsa, puxada pelo temor com o coronavírus, preocupa?

Não me preocupa. Essa é mais uma das 1 milhão e 100 mil crises que eu já vi desde que comprei minha primeira ação na Bolsa. Como dizia o economista Mário Henrique Simonsen, as crises têm mais ou menos o tempo de uma gestação, nove meses. Essa daí não vai demorar nove meses, é mais um terror que se instalou no mundo. Lógico, isso afeta os agentes econômicos como um todo. Mas empresas que são boas vão continuar trabalhando, pagando seus dividendos para nós, os investidores, e no longo prazo tudo se acerta. 

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Neste exato momento, todas as ações estão em queda na B3... 

É um bom momento para comprar. Hoje (ontem) eu já comprei mais de um 1 milhão de ações. Você não pode se esquecer que o mercado de ações não é de risco, é de oportunidade. E, quando as oportunidades aparecem, você tem de comprar. A oportunidade aparece mesmo com uma queda forte como essa que estamos vendo. 

Quais ações o sr. comprou?

Aquelas que são ótimas (risos). São ações que não fazem sentido nenhum não comprar. Por exemplo, a Itausa: o que justifica ela ter a queda que está tendo? Eu comprei. Comprei Cielo por R$ 6,80. A Braskem, há sinalizações de que ela vai migrar para o Novo Mercado. Isso é bom, mas está caindo hoje. A empresa está sólida. Eu comprei Braskem também.

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E quais ações o sr. não compraria neste momento?

Ah, eu não vou comprar Vale, não vou comprar Petrobrás, essas empresas que estão no mercado de commodities. Vale eu comprei quando estava R$ 10 e vendi quando chegou a R$ 40. Empurrei commodity para outro, que também deve ter ficado feliz porque chegou a R$ 50. Mas foi uma oportunidade. Sobre a Petrobrás, sabe quem deve estar feliz pra caramba? O pessoal do BNDES, com certeza. Eles venderam milhões e milhões de ações da Petrobrás a R$ 30 cada uma, olha que negócio maravilhoso (o BNDES vendeu no início de fevereiro 735 milhões de ações da Petrobrás, arrecadando R$ 22,6 bilhões). Hoje não conseguiriam isso de jeito nenhum. Mas, veja, olhe as oportunidades. Eu não compro essas ações agora, neste momento, mas não quer dizer que as empresas vão virar pó, porque não vão. Isso vai passar. 

E no cenário político, preocupa o vídeo compartilhado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, que convoca um ato contrário ao Congresso Nacional para março?

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Eu vou falar uma coisa para você. Somos uma 'democratura', uma democracria corporativista, temos inúmeros ditadorezinhos no Brasil.

Isso poderia afetar as reformas que precisam ser aprovadas e as empresas estatais da Bolsa? 

Sim, poderia afetar. Mas eu não acho que é o momento de comprar ações de estatais. Eu, por exemplo gosto de Banco do Brasil, mas não morro de amores por ele. O Banco do Brasil reduziu ao máximo as bonificações para os acionistas, ele não remunera mais o investidor como remunerava. Para eu entrar numa estatal, tem de justificar muito bem o seu preço em função da remuneração. E hoje elas não estão assim. Tem coisa melhor por ai.

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