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FGV/Estadão: Com reforma desidratada, cenário é ‘sombrio sem ruptura’

“A minha impressão é que a gente vai para uma estagnação nos próximos anos", disse o pesquisador Samuel Pessôa

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Vinicius Neder
Atualização:

RIO – O pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), traçou há pouco um cenário “sombrio sem ruptura” para a economia brasileira, em que, após a aprovação tardia de uma reforma da Previdência com impacto fiscal desidratado, a atividade econômica ficaria estagnada com crescimento de 1% a 2% ao ano.

O Ibre/FGV e Estado promovem na manhã desta sexta-feira, 12, o seminário '100 Dias do Governo Bolsonaro', para discutir as medidas implementadas e aquelas em fase de gestão Foto: Helvio Romero/Estadão

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“A minha impressão é que a gente vai para uma estagnação nos próximos anos. Não sei se é 1% ou 2% (de crescimento econômico ao ano). A pergunta é se com uma (reforma da) Previdência medíocre teremos uma ruptura”, disse Pessôa, em mesa-redonda no seminário “100 dias do Governo Bolsonaro”, promovido pelo Estadão e pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 12.

Em seguida, o pesquisador respondeu que não vê ruptura na economia, ou seja, uma volta da recessão, por causa de uma série de “amortecedores” de uma eventual crise mais profunda. Entre os “amortecedores”, Pessôa citou o fato de ser feita “alguma reforma” na Previdência, o elevado nível de reservas cambiais, a regra do teto de gastos públicos, que impediria uma elevação exagerada dos gastos, e a inflação baixa, tanto corrente quanto nas expectativas. 

“Isso significa que vamos conseguir rodar nos próximos meses com taxas de juros muito baixas”, afirmou Pessôa, completando que juros baixos ajudam a segurar o ritmo de expansão da relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB), especialmente se acompanhados de devoluções antecipadas da dívida do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com a União.

Também na mesa-redonda, o pesquisador Fernando Veloso, também do Ibre/FGV, disse que esse cenário não chegaria ser “sombrio”, mas, sim, otimista. Na visão de Veloso, embora o cenário traçado por Pessôa faça sentido do ponto de vista da economia, não seria equilibrado do ponto de vista social. Ou seja, com elevado nível de desemprego, a população não suportaria um cenário de estagnação da economia.

“Se não aprovar a (reforma da) Previdência com de R$ 700 bilhões a R$ 800 bilhões (de impacto fiscal), acho muito difícil que consigamos prolongar a estagnação por muito mais tempo”, afirmou Veloso, apostando que, no caso de as mudanças previdenciárias serem aprovadas com baixo impacto, haveria ruptura na economia.

No debate, Veloso defendeu reformas profundas de modelo econômico, como as que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem propondo, com foco no aumento da produtividade. Nas contas do pesquisador, a produtividade da economia no Brasil cresceu, em média 0,5% ao ano nos últimos 30 anos.

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O baixo crescimento da produtividade deveria ter tido maior impacto na economia real, mas acabou mascarado pelo “bônus demográfico” e o “boom de commodities”. Agora, porém, o problema da baixa produtividade ficará mais visível.

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