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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Formigas unidas jamais serão vencidas

A novidade na história da GameStop é que é a primeira vez que pequenos acionistas se unem para enfrentar pesos pesados

Foto do author Celso Ming
Atualização:

A percepção geral é a de que a movimentação (e os preços) das ações é comandada por cachorros grandes. Há alguns anos, eram fortes capitalistas. Hoje, são fundos de hedge, bancos de investimento, enfim, capital da pesada.

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A novidade é uma espécie de conspiração das formigas reunidas por meio de redes sociais, especialmente em grupos de aplicativos de mensagens, dispostas a juntar seus caraminguás para contra-atacar apostas feitas no mercado por grandes investidores.

Nos Estados Unidos, o caso mais falado da hora é o da GameStop, empresa que cresceu vendendo videogames em lojas espalhadas por shopping centers. A pandemia afastou os compradores dos shoppings e hoje quem compra videogames prefere baixá-los diretamente de lojas digitais. Resultado: a GameStop quase faliu, as ações, que eram negociadas a US$ 62 em 2007, desabaram em março de 2020 para US$ 3,50. A situação se inverteu no início deste ano quando um empresário que vendia comida para pets pela internet entrou na diretoria da GameStop para transformá-la enfim em varejista online, com uma forte injeção de capital e promessa de torná-la líder no setor.

Caso da loja de videogamesGameStop é emblemático do ponto de vista das "formigas" contra os cachorrões do mercado financeiro Foto: LM Otero/AP

Nas duas últimas semanas, o otimismo com o destino da empresa animou os investidores, o que atraiu outros pequenos investidores. Esse movimento ganhou força e, para surfar na onda, outros traders decidiram peitar os grandes fundos de hedge que, por sua vez, apostaram pesado na queda desses papéis da GameStop no mercado de opções. Fator que é benéfico para esses iniciantes é que, nos últimos anos, surgiram diversas corretoras gratuitas e totalmente digitalizadas, que atraíram as formigas para o mercado de cachorrões.

Ao longo desta semana, o impacto da formigada unida foi tão forte que obrigou os fundos de hedge a reverter a aposta para não ter de morrer com o enorme prejuízo causado pelo fenômeno. E foi assim que, quase que da noite para o dia, os papéis da GameStop chegaram ao pico de 1.745% em 2021.

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Ontem, às 13h30 do horário de Brasília, a Bolsa de Nova York teve de interromper as negociações das ações da GameStop “pelo excesso de volatilidade”. Como ressaca da euforia, o tombo da ação foi de 44,29%. Fechou a US$ 193,60, acumulando ainda alta de 927% ao longo deste ano.

Aqui no Brasil, um número ainda incerto de pequenos investidores entendeu que devesse repetir no mercado interno o caso GameStop. Escolheu a IRBR3, ação ordinária do Instituto de Resseguros do Brasil. Foi identificado que essa ação vinha passando por apostas pesadas de baixa por parte de fundos de hedge e grandes instituições financeiras. Uma aposta de baixa pode ser feita tanto no mercado de opções como no mercado à vista. Pode ser feita quando um investidor aluga um lote de ações para vendê-las imediatamente a preços altos para, na hora de devolvê-las ao proprietário, recomprar o mesmo lote a preços rebaixados – e embolsar a diferença.

A forte alta das IRBR3 no pregão desta quinta-feira, quando fechou 17,82% acima do fechamento anterior, pode ter sido produzida pelos fundos que haviam apostado na baixa e que tiveram de reverter sua posição para não amargar prejuízos mais altos.

Ninguém espere que esse jogo, por mais agressivo que seja, terá o impacto que vem tendo no mercado dos Estados Unidos o caso GameStop. São movimentações ainda incipientes. A novidade nessa história é a de que é a primeira vez que pequenos acionistas se unem para enfrentar pesos pesados.

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» A vacina e a Faixa de Gaza

O leitor Allen Klein chamou a atenção para um erro na Coluna de quinta-feira passada, em que ficou dito que Israel não tratou de vacinar a população da Faixa de Gaza. “A Faixa de Gaza não faz parte de Israel”, observou Klein. Por isso, não há obrigação de que as autoridades sanitárias de Israel devessem imunizar sua população. Enquanto isso, a região administrada pela Autoridade Palestina não aceitou a ajuda israelense para a vacinação e optou por comprar as doses de vacina diretamente da Rússia.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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