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França e Irlanda ameaçam acordo UE-Mercosul se Brasil não proteger a Amazônia

Itamaraty acompanha os possíveis riscos à conclusão do tratado, assinado em junho depois de 20 anos de negociação; Finlândia sugere que União Europeia suspenda compra de carne e EUA se dizem 'preocupados' com impacto de incêndios

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Por Redação
Atualização:

França e Irlanda ameaçam bloquear o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, firmado em junho, caso o Brasil não tome providências para proteger a floresta amazônica.

O gabinete do presidente francês Emmanuel Macron afirmou nesta sexta-feira, 23, que o presidente Jair Bolsonaro estava mentindo quando minimizou as preocupações com a mudança climática na cúpula do G20 no Japão, em junho. Tendo em vista esse contexto, a França vai se opor ao acordo firmado entre a União Europeia e Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e do Brasil, Jair Bolsonaro, durante encontro doG20 em Osaka. Foto: Jacques Witt/AFP - 28/6/2019

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Na quinta-feira, 22, Macron e o secretário-geral da ONU, António Guterres, expressaram preocupação com os incêndios florestais que devastam a Amazônia, mas Bolsonaro respondeu irritado ao que ele considera ser uma intromissão em assuntos brasileiros.

De acordo com o primeiro-ministro irlandês, Leo Vardakar, "não há como a Irlanda votar a favor do acordo entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais". Segundo o jornal irlandês Independent, Vardakar se disse muito preocupado com as notícias sobre o nível de destruição na Amazônia.

O Itamaraty acompanha os possíveis riscos à conclusão do acordo entre o UE-Mercosul. Segundo uma fonte que acompanha o processo, o assunto ainda "está muito verde", mas a possibilidade de o tratado não ser ratificado está no radar do Ministério de Relações Exteriores. Outra fonte do Itamaraty pondera que ainda não há oposição formal ao acordo, a não ser declarações informais de alguns líderes europeus.

Diante da repercussão internacional negativa contra o governo Jair Bolsonaro, que se intensificou nos últimos dias, o Brasil tem buscado meios de mostrar que tem cumprido metas do Acordo de Paris e que está comprometido com a preservação e o emprego sustentável das florestas. O objetivo é deixar claro que não há razão para não prosseguir com o processo de assinatura e posterior ratificação do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a UE. O documento passa por revisão jurídica atualmente.

Na quinta, Bolsonaro já adotou medidas com o intuito de sinalizar que está agindo para proteger o meio ambiente. Entre elas, determinou que todos os ministros adotem "medidas necessárias para o levantamento e o combate a focos de incêndio na região da Amazônia Legal para a preservação e defesa da Floresta Amazônia, patrimônio nacional".

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Após reunião com ministros no Palácio do Planalto, na tarde desta sexta-feira, novas medidas devem ser anunciadas para tentar melhorar a imagem do Brasil.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou as declarações de países europeus. Em uma nota intitulada "O Brasil exige respeito", diz ver "com espanto" as ameaças de recuo no acordo entre UE e Mercosul. "Todos os pontos pactuados foram exaustivamente debatidos ao longo de 20 anos de negociações e são de amplo conhecimento de todos os envolvidos", diz a nota, assinada pelo presidente da instituição, Paulo Skaf.

EUA preocupados com incêndios

Uma fonte do alto escalão do governo dos Estados Unidos também se manifestou nesta sexta-feira e afirmou que o país "está preocupado com o impacto dos incêndios na Floresta Amazônica nas comunidades, na biodiversidade e nos recursos naturais do Brasil e da região". 

Alemanha apoia Macron

Os incêndios que assolam a Amazônia constituem uma "situação urgente" que deve ser discutida durante a cúpula do G-7 neste fim de semana, declarou nesta sexta o porta-voz da primeira-ministra Angela Merkel, Steffen Seibert.

A chanceler alemã apoia a posição de Macron, que anteriormente solicitou que a questão fosse discutida no G-7 - o grupo das nações mais ricas formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

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A Organização das Nações Unidas (ONU) também se manifestou. "No meio da crise climática global, não podemos permitir mais danos a uma fonte importante de oxigênio e biodiversidade", disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Finlândia sugere suspensão de compra de carne

A Finlândia, que detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu à UE que investigue a possibilidade de proibir a carne bovina brasileira em seus mercados devido à devastação causada por incêndios na floresta amazônica.

"O ministro das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição das florestas tropicais da Amazônia e sugere que a UE e a Finlândia deveriam rever com urgência a possibilidade de proibir as importações brasileiras de carne bovina", disse o Ministério das Finanças da Finlândia em comunicado.

O pedido da Finlândia afetou as ações dos frigoríficos na Bolsa de São Paulo. Por volta das 15h25, BRF ON caía 3,24%, seguida de Marfrig ON, com -2,93%, e JBS ON, com -1,75%. O Ibovespa tinha queda de 2,15%, chegando aos 97.926 pontos. / Julia Lindner e  Wagner Gomes, com Reuters

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