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Guedes acusa Maia de acordo com a esquerda contra privatizações; Maia rebate: 'Está desequilibrado'

O presidente da Câmara já tinha criticado o ministro na terça-feira por, segundo ele, ter interditado o debate sobre a reforma tributária; o governo desistiu de enviar a segunda fase da proposta, que incluía um imposto semelhante à CPMF

Foto do author Lorenna Rodrigues
Foto do author Aline Bronzati
Por Lorenna Rodrigues (Broadcast), Fabrício de Castro e Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira, 30, que há boatos de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez um acordo com a esquerda para não pautar as privatizações. “Não há razão para interditar as privatizações”, afirmou.

Não há razão para interditar as privatizações

Paulo Guedes, ministro da Economia

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Maia rebateu imediatamente ao Estadão/Broadcast: "Paulo Guedes está desequilibrado".

Na terça-feira, 29, o presidente da Câmara já tinha criticado Guedes por, na visão do deputado, ter interditado o debate sobre a reforma tributária. Ele fez a declaração em uma rede social, um dia após o governo desistir de enviar a segunda fase da reforma tributária, que incluiria um imposto sobre transações digitais semelhante à CPMF. Não houve consenso entre o governo e líderes partidários. “Por que Paulo Guedes interditou o debate da reforma tributária?”, escreveu Maia em sua conta no Twitter.

Paulo Guedes está desequilibrado

Rodrigo Maia, presidente da Câmara

O tuíte de Maia foi uma resposta a uma reclamação de Guedes, feita em agosto, de que o presidente da Câmara estava impedindo a discussão do novo imposto, que bancaria a desoneração da folha para as empresas (ou seja, a redução dos encargos pagos sobre os salários dos empregados). “Nem o ministro pode querer impor um imposto que a sociedade não queira, nem o relator, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente da República pode impedir um debate sobre qualquer imposto”, afirmou o ministro em agosto.

No entanto, depois de dar aval para que a equipe econômica sentisse o termômetro na recriação da nova CPMF, líderes e a ala política do governo resolveram engavetar a proposta por causa da resistência do Congresso em aprovar um novo tributo às vésperas das eleições municipais.

A troca de farpas desta quarta-feira é mais um capítulo da briga pública entre os dois, que estão rompidos desde o início do mês, quando Maia anunciou que passaria a tratar dos assuntos econômicos apenas com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, articulador oficial do Palácio do Planalto.

Outro ponto da discórdia foi a discussão de dois fundos bilionários, cujos repasses podem chegar a R$ 485 bilhões, para compensar os Estados e municípios da perda da arrecadação com a aprovação de uma reforma tributária.

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A venda de participação da Eletrobras, pauta que vem do governo Michel Temer, também é um ponto de atrito entre Guedes e Maia. Em uma tentativa de agilizar a privatização da estatal com foco em geração e transmissão de energia, o governo chegou a pensar em pedir a um senador que apresentasse um "projeto clone" da proposta enviada pelo Executivo ao Congresso no ano passado.

A estratégia tinha a intenção de inverter a ordem de tramitação do texto, começando pelo Senado para depois seguir para a Câmara, porque Maia  já deixou claro que prefere deixar as discussões sobre o tema para 2021. Técnicos, no entanto, argumentaram que um senador apresentar o PL enviado pelo Executivo é inconstitucional, algo que pode até mesmo parar na Justiça, atrasando ainda mais o cronograma.

Guedes chegou no governo dizendo que arrecadaria R$ 1 trilhão com a venda de estatais, mas em sua gestão nenhuma estatal de controle direto da União foi privatizada. Pelo contrário: Bolsonaro ainda criou a NAV, responsável pelo controle do tráfego aéreo, antes nas mãos da Infraero. Foi a primeira estatal desde a gestão Dilma Rousseff, que, em 2013, criou a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF).

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Nesta quarta, depois de um resultado positivo na geração de empregos em agosto, Guedes apareceu de surpresa na entrevista marcada para comentar os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostrou a abertura de 249.388 vagas no mês de agosto. "Superamos a fase em que precisávamos manter os sinais vitais da economia brasileira. Começamos a retomada do crescimento econômico em V, apesar do pessimismo e das críticas”, afirmou Guedes. 

Depois de críticas de que teria abandonado a pauta liberal de olho na reeleição do presidente Jair Bolsonaro, a ser disputada em 2022, Guedes reafirmou seu compromisso com as reformas. “Estamos voltando para o trilho das reformas estruturantes. Vamos simplificar impostos e reduzir na reforma tributária. Tem muita articulação política em andamento ainda”, disse. De acordo com o ministro, os cálculos são de que, em 10 anos, o Brasil receberáR$ 1,2 trilhão de investimentos. Ele citoucomo exemplo de sucesso o leilão de saneamento feito nesta quarta-feira em Maceió.

Paulo Guedes e Rodrigo Maia trocaram críticas nesta quarta. Foto: Adriano Machado/Reuters - 11/8/2020

 

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