
22 de novembro de 2019 | 16h45
O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu nesta sexta-feira, 22, que, no final, a reforma administrativa deverá ficar mesmo para 2020, conforme decisão do presidente Jair Bolsonaro.
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“Como eu disse na terça-feira, realmente acreditava que a reforma seria encaminhada ao Congresso ainda nesta semana ou na próxima e que conseguiria convencer o presidente a acelerar o processo”, declarou. “Mas o presidente achou melhor dar um respiro para o Congresso e deixar para enviar a reforma administrativa no começo do ano que vem.”
De acordo com Guedes, como o governo já conseguiu aprovar neste ano uma reforma da Previdência robusta, que deverá permitir uma economia de quase R$ 1 trilhão em dez anos, enviou o pacto federativo ao Congresso e provavelmente deverá encaminhar a reforma tributária na semana que vem, a avaliação do presidente foi de que “o ano está ganho”.
Na terça-feira, o ministro afirmou ao Estado que havia sido “mal compreendido” quando falou que a reforma administrativa não iria “tão cedo” ao Congresso numa entrevista coletiva realizada no dia anterior em Brasília. Guedes disse que estava respondendo à pergunta de um repórter que queria saber se a reforma administrativa seria enviada “hoje (segunda-feira) ou amanhã (terça-feira)”.
No início da semana, ao dizer que reforma “vai aparecer por aí, mas vai demorar um pouco”, Bolsonaro já havia sinalizado que ela poderia ser adiada. Isso acabou por reforçar a percepção de que a declaração de Guedes na coletiva estava em linha com o pensamento do presidente.
Bolsonaro também disse na ocasião que a reforma “será a mais suave possível”, sugerindo que o governo poderá ceder às pressões dos servidores, “desidratando” a proposta e preservando privilégios que o projeto original do Ministério da Economia pretendia reduzir. No final de outubro, durante viagem à Ásia, Bolsonaro já havia pedido à equipe econômica para preservar a estabilidade dos atuais servidores, um dos pontos mais relevantes da proposta inicial.
Antes mesmo de ser enviada ao Congresso, a reforma administrativa está sendo “bombardeada” pela elite do funcionalismo, composta por integrantes das carreiras de Estado que reúnem mais de 200 mil funcionários da União, dos Estados e dos municípios, com o objetivo de derrubar vários pontos da proposta antecipada no início de outubro pelo Estado.
Além de garantir a estabilidade para quem já faz parte do quadro de servidores, as lideranças do funcionalismo pretendem manter também o benefício para os novos contratados e são contra a redução dos salários iniciais, o congelamento das progressões de carreira e o corte temporário de até 25% na jornada e nos vencimentos, para cumprimento do limite de gastos com pessoal definido pela legislação.
Segundo o Estado apurou, o presidente também estaria preocupado com o atual cenário político na América Latina e uma possível repetição no Brasil dos violentos protestos registrados no Chile e na Colômbia. Logo depois de sair da prisão, o ex-presidente Lula afirmou que o Brasil deveria “seguir o exemplo” do Chile e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann já deu sinais de que o partido e seus aliados podem deflagrar manifestações contra o governo.
Como o PT tem grande influência no funcionalismo, que deverá ser afetado pela reforma administrativa, mesmo com a preservação da estabilidade para os servidores atuais, Bolsonaro entende que convém “não colocar gasolina na fogueira” agora.
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