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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Impacto global da guerra da Ucrânia

A disparada da inflação global é o principal efeito econômico desta guerra

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O nível de incertezas produzidas por essa invasão da Ucrânia continua o mesmo de quando começou ou até aumentou. Mas, há mais de uma semana, as pessoas se perguntam até onde vai isso.

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Nesta quarta-feira, os preços do barril de petróleo tipo Brent, referência no mercado internacional, fecharam a US$ 112,93, 7,58% acima das cotações da véspera. Mas haviam chegado a bater os US$ 114 no dia. Em apenas dez dias, a alta é de 22,13%. Em Nova York, o WTI teve ganho de 6,95%, cotado a US$ 110,60 - maior patamar desde maio de 2011. Já há analistas que falam em petróleo a mais de US$ 150 por barril.

A disparada não se limitou ao petróleo. No mesmo período, os preços da soja subiram 4,5%; os do milho, 11,9%; e os do trigo, 31,7%.

Por enquanto, a Petrobras preferiu esperar por uma certa estabilização antes de reajustar os preços internos. Novas pancadas parecem inevitáveis, apesar das pressões políticas para que a empresa absorva parte dessa conta.

Ninguém espera que o governo Putin concorde com retirar as tropas apenas em troca da promessa do governo ucraniano de não aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o pacto de defesa do Ocidente. Mas a imposição de um governo alinhado pode não ser o fim de tudo, porque está para ser demonstrada a capacidade de resistência clandestina da população à ocupação russa.

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O principal efeito econômico desta guerra é a disparada da inflação global. A estocada nos preços da energia, dos alimentos e dos metais não é tudo. Está para ser avaliada nova desorganização dos fluxos de mercadorias e serviços – não mais em consequência da pandemia, mas da guerra. Não há como o Brasil evitar o impacto da alta de preços e dessa nova desarrumação.

Campo de exploração em Ufá, na Rússia. Desde o início da invasão da Ucrânia, os preços do barril tipo Brent para maio valorizaram 22,13% em dez dias. Foto:Andrey Rudakov/Bloomberg 

Os grandes bancos centrais terão de decidir se contra-atacam a inflação ou se mantêm frouxa a oferta de moeda para enfrentar novo período de quebra da atividade econômica.

Os efeitos mais profundos são de ordem geopolítica. O conflito conseguiu dar força à Otan e à Organização das Nações Unidas (ONU). A União Europeia obteve mais razões para agilizar seus processos de tomada de decisão. Parecem iminentes os reforços aos orçamentos de Defesa na Europa, com rearmamento da Alemanha.

A guerra tirou o foco das relações Estados Unidos-China. Alguns analistas já imaginam que os guardiões da atual ordem política mundial não terão condições de neutralizar novas fontes de tensão no planeta – situação que favoreceria o jogo da China, especialmente em Taiwan.

Questão menos examinada é até que ponto essa guerra poderá interferir nos atuais cronogramas da transição energética. A disparada dos preços do petróleo sugere que mais capitais serão canalizados para apressar a troca dos combustíveis fósseis. Mas pode acontecer o contrário, que mais investimentos se voltem para aumentar a produção de petróleo e gás. A conferir. 

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*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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