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Lira mostra que Guedes não terá vida fácil

Presidente da Câmara subiu o tom e cobrou do ministro da Economia uma solução sobre o auxílio emergencial

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

Menos de 24 horas depois de entregar na bandeja a aprovação do projeto de autonomia formal do Banco Central, o presidente da Câmara, Arthur Lira, cobrou a fatura.

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Pressionado pelos deputados e suas bases políticas nos municípios que já contam com a prorrogação do auxílio emergencial, Lira subiu o tom nesta quinta-feira, 11, e partiu para o ataque ao ministro Paulo Guedes. Cobrou uma solução para ontem, sem meias palavras.

“Urge que o ministro Guedes nos dê uma alternativa viável. A situação está ficando crítica na população e precisamos encontrar uma alternativa”, avisou o presidente da Câmara, que na quarta-feira, 10, fez a “entrega” a Guedes e ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, da autonomia por 339 votos favoráveis, mais do que recebeu para sentar na cadeira de Rodrigo Maia com apoio de Bolsonaro e do cofre aberto do Tesouro.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, na chegada ao Congresso nesta quinta-feira. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Em troca da autonomia, um projeto polêmico e que há anos o BC tenta aprovar, Lira colocou as cartas na mesa. Não vai esperar PEC do orçamento de guerra, exigência de Guedes para dar o auxílio com medidas de corte de despesas, e voltou a falar em programa social reforçado para depois do auxílio.

O ministro que apresente uma solução. Agora, é a vez de Guedes fazer a “entrega” aos aliados governistas. Lira tenta resgatar também para a Câmara o protagonismo da defesa do popular auxílio, até agora nas mãos do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que tomou a dianteira.

O impasse para o ministro Guedes é que não basta ele aceitar o auxílio sem medidas fiscais compensatórias na base de compromissos futuros de que os parlamentares vão cortar gastos.

No caso da concessão do auxílio, há empecilhos jurídicos que os técnicos da equipe de Guedes consideram intransponíveis para a edição de um crédito extraordinário (que fica fora do teto de gastos)com a suspensão das regras fiscais.

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Os técnicos argumentam que tem que ter a PEC do orçamento de guerra e avisaram que não aceitam assinar crédito extraordinário sem ela. Bingo.

Guedes, por outro lado, tenta jogar duro cobrando a inclusão de medidas fiscais. Ele fez isso para socorrer os Estados e municípios e conseguiu o congelamento de salários dos servidores até dezembro deste ano. E na prorrogação do auxílio, no ano passado, conseguiu o envio da proposta de reforma administrativa, até então engavetada pelo presidente Bolsonaro.

Só que desta vez o tempo não está a seu favor. Tampouco a urgência de o governo pagaras entregas prometidas aos deputados e senadores que apoiaram seus candidatos.

Nunca é demais lembrar que a escolha de votar primeiro o projeto de autonomia do BC, que nem de longe era a mais urgente para o momento de pandemia, foi acertada em comum acordo com Guedes e Campos Neto.

Ninguém parece querer sentar de fato à mesa para discutir uma alternativa para viabilizar o auxílio. Ficam todos marcando posição para plateia com palavras ao léu.

Assim como todo o governo, Guedes apoiou nos bastidores a candidatura de Lira. Mas não terá vida fácil. Não dá para dizer que a lua de mel entre os dois foi curta. Mas nesse casamento arranjado, Lira falou grosso.

*É REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

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