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Maia se compromete com governadores a pautar projeto de renegociação da dívida dos Estados

Medida é vista como fundamental pelos líderes dos Estados e deve ajudar na retomada dos investimentos em 2021; Alcolumbre também disse que vai votar o projeto rapidamente no Senado

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Em reunião com governadores, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se comprometeu nesta terça-feira, 3, a colocar em votação projeto que permite a renegociação de dívida dos Estados e garante mais crédito com aval da União em contrapartida de medidas de ajuste fiscal. A votação do projeto, no entanto, vai depender de desobstrução da pauta pela liderança do governo. 

Os governadores vão pressionar a parlamentares das suas bancadas para que a votação ocorra. O projeto, de autoria do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), é considerado fundamental pelos governadores para a retomada dos investimentos em 2021, quando termina o auxílio do governo federal concedido aos Estados e municípios durante a pandemia da covid-19. Eles querem que o projeto seja votado ainda em 2020 para dar previsibilidade para as finanças públicas.

Apesar de Maia prometer agilidade, votação depende da desobstrução da pauta pela liderança do governo. Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

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Durante a reunião, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se comprometeu também a colocar o projeto na pauta 48 horas depois da votação pela Câmara. A reunião ocorreu inicialmente na residência de Maia. Depois, o grupo foi até à residência de Alcolumbre, que fica ao lado da de Maia, segundo o deputado Pedro Paulo, que participou do encontro. 

O relator do projeto, deputado Mauro Benevides (PDT-CE), informou que, se a urgência do projeto de cabotagem (navegação na costa brasileira) for retirada, a proposta poderá ser votada pela Câmara. Segundo ele, também poderá ser votado a projeto que desvincula recursos de fundos públicos e é de interesse da equipe econômica. Após a reunião com Maia, governadores tiveram reunião no Ministério da Economia.

O relatório de Benevides deverá ficar pronto ao longo desta semana com ajustes que serão feitos após as conversas. Os governadores pediram um prazo de dez anos para a duração do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), programa de socorro do governo federal, cujas regras estão sendo aperfeiçoadas no projeto depois do fracasso da adesão do Rio de Janeiro, que não conseguiu cumprir as medidas de ajuste fiscal previstas no contrato e vive um impasse em relação ao futuro do regime. Minas e Rio Grande do Sul são os outros dois Estados que precisam das mudanças para aderirem ao regime e receberem o socorro federal para terem acesso ao crédito novo.O relator previu um prazo de oito anos e estuda alternativas para o prazo. Hoje, a duração máxima é de seis anos. 

Benevides informou ao Estadão que vai fazer mudanças na fórmula do teto de gastos dos Estados. As despesas com saúde e educação, exigidas para o cumprimento dos mínimos previstos na Constituição,e que ficarem acima do crescimento da inflação de um ano para o outro, não devem ser computadas no limite do teto. No segundo ano de vigência, o pagamento da dívida começa a ser feito em forma de escadinha, começando em 10%.

Segundo Benevides, os Estados com nota de crédito C, que hoje não podem pegar empréstimos com aval da União, poderão tomar crédito em até 3% da sua receita corrente líquida desde que cumpram as medidas de ajuste previstas no projeto. Com a garantia do Tesouro, os governadores conseguem crédito mais barato, já que os bancos não ficam com o risco de calote.

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Pedro Paulo avaliou como um avanço importante nas negociações e destacou que projeto reforça a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e muda o paradigma das renegociações históricas das dívidas com a União, que sempre deram alívio sem cobrar ajustes dos Estados. 

De acordo com ele, o projeto faz uma calibragem das medidas de ajustes, chamadas de contrapartidas, e altera artigo 42 da LRF que determina que os governadores e prefeitos em final de mandato terão que deixar em caixa reserva suficiente para pagar os compromissos assumidos. A proposta é encurtar o prazo para dois anos, segundo ele. Mas o relator chegou a propor que a regra fosse cumprida todos os anos. Pedro Paulo destacou que é preciso dar um prazo de transição para a regra entrar em vigor.

O projeto 101 foi apresentado por Pedro Paulo em abril depois que a discussão da proposta Plano Mansueto acabou, na prática, sendo arquivada na esteira da aprovação do auxílio emergencial para os Estados e municípios – que garantiu um alívio de R$ 125 bilhões. O plano busca trazer soluções para os Estados mais endividados (Rio, Minas e Rio Grande do Sul), os que não conseguem crédito com aval da União e os que não conseguiram cumprir o teto de gastos, que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação. Dos 20 Estados que adotaram a regra como contrapartida à renegociação da dívida em 2016, 11 não cumpriram a regra em 2019, segundo dados do Tesouro divulgados em agosto.

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