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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O que esperar do início do governo Biden

Posse do democrata marca a virada de página de um período turbulento nos Estados Unidos e na sua relação com o mundo

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

A posse do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta próxima quarta-feira, marca a virada de página de um período turbulento do país tanto na política interna como na relação com o resto do mundo.

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A polarização dominou os últimos quatro anos. Os antagonismos se exacerbaram. A principal proposta de Biden é de união e de retomada dos valores tradicionais dos Estados Unidos. Se vai ou não ser atendido fica para ser conferido à medida que seu governo se desdobrar. Também se espera mais flexibilidade na política de imigração, que, no período Trump, ficou marcada pela construção do muro ao longo da fronteira com o México.

Nesta última quinta-feira, Biden, ainda na condição de presidente eleito, anunciou um “cestão” de estímulos para a recuperação da economia, da ordem de US$ 1,9 trilhão, ou de aproximadamente 9% do PIB americano. É, essencialmente, um pacote de cunho assistencialista, de socorro imediato aos mais necessitados, numa hora de recrudescimento da pandemia, quando os Estados Unidos devem em breve contabilizar 400 mil mortes. 

Não são ainda os investimentos destinados a financiar obras de infraestrutura, conforme prometido ao longo da campanha eleitoral. Têm importância especial no contexto da cultura conservadora dos Estados Unidos, fortemente marcada pelo princípio de que cada um tem de cuidar de si e prover-se do que necessita. E, por isso mesmo, está habituada a desconfiar das políticas de ajuda, mesmo em épocas de crise e de desemprego. Assim, espera-se forte resistência dos congressistas mais conservadores que se concentram no Partido Republicano à aprovação integral deste plano, num momento em que têm também de decidir de que lado ficam na proposta de impeachment do presidente, que deixa o Salão Oval da Casa Branca, em Washington.

Posse do democrataJoe Biden será em 20 de janeiro Foto: Angela Weiss/AFP

Trump foi duplamente derrotado: nas urnas e na conduta adotada ao longo do seu governo. Mas até mesmo seu afastamento definitivo da política, se vier a ser aprovado (pelo impeachment), não garante o desarmamento de sua ampla base de apoio. Apesar de tudo o que foram esses quatro anos, nada menos que 74 milhões de americanos votaram nele e, assim, manifestaram seu acordo com a política populista, xenófoba e antidemocrática por ele adotada. Como já se viu, à frente dessa quase metade da população ressentida dos Estados Unidos, estão agrupamentos liderados por extremistas enraivecidos, como os que se viram na invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro. 

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Os primeiros movimentos da política internacional de Biden também deverão ser amplamente conciliatórios. Ele já se recusou a continuar com a política unilateralista de Trump, marcada pela ruptura com os organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU). Enfrentará com mais cuidado a escalada da China em direção à hegemonia global e os inimigos da hora, como a Rússia de Putin, o Irã dos aiatolás, a Coreia do Norte de Kim Jong-un e o Estado Islâmico.

O governo do Brasil não está bem na foto. Mas não se esperam represálias ao apoio incondicional dado pelo presidente Bolsonaro à política do presidente Trump. Mas a relação entre os dois países deverá ser regida menos por relações pessoais e mais por relações institucionais de Estado para Estado.

Mas Biden não pode esperar por um período de graça, os tais cem dias de trégua que costumam caracterizar inícios de governo. A nova política tende a ser duramente desafiada desde seu início, tanto dentro como fora dos Estados Unidos. Seus adversários pretendem saber o quanto antes até onde podem ir e até onde vai o respaldo político com que contará o novo governo.

Ficha dos Estados Unidos Foto: Infografia/Estadão

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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