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Presidente do BC diz que, sem disciplina fiscal, País pode caminhar para 'desorganização de preços'

Em relação à aceleração recente da inflação, Roberto Campos Neto voltou a dizer que, na avaliação do BC, o fenômeno é temporário

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse em entrevista ao SBT que o quadro das contas públicas “apresenta uma grande fragilidade” e que, se o Brasil não conseguir atingir a disciplina fiscal e a convergência da dívida pública a longo prazo, o País pode “caminhar para uma desorganização de preços”.

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Campos Neto respondia uma pergunta sobre a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, dada há 15 dias, de que haveria risco de volta da hiperinflação no Brasil, caso não conseguisse refinanciar a dívida pública devido à situação fiscal.

“Acho que algumas falas acabam sendo interpretadas fora do contexto...”, respondeu inicialmente o presidente do BC, segundo o SBT. Questionado sobre qual seria a interpretação além da literal, Campos Neto citou as fragilidades do País.

“Nós temos uma fragilidade fiscal. A gente pode interpretar que se, de fato, a gente não conseguir aplicar um sistema de disciplina fiscal e que a gente tenha uma convergência da dívida a longo prazo, obviamente, se isso não acontecer, nós podemos, sim, caminhar para uma desorganização de preços. Acho que isso foi mencionado”, afirmou.

Campos Netodisse concordar com avaliação do secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, de que o Brasil tem 'muito pouco ou zero espaço' para medidas adicionais. Foto: Dida Sampaio/Estadão

O presidente do BC ponderou que a autoridade monetária “não opina sobre o que os outros ministros estão falando”, mas reforçou o alerta de que “é muito difícil manter inflação baixa e juros baixos com o fiscal descontrolado”.

Em relação à aceleração recente da inflação, ele voltou a dizer que, na avaliação do BC, o fenômeno é temporário. Segundo Campos Neto, os três efeitos que pressionam os preços – câmbio, mudança no padrão de consumo devido à pandemia e maiores transferências devido ao auxílio emergencial – tendem a diminuir. Ele disse inclusive que a inflação de alimentos vai voltar a cair e alguns itens ficarão mais baratos.

“Isso não significa que o BC não esteja vigilante, olhando a inflação. E o horizonte do BC não é um horizonte de inflação de um ou dois meses. A ferramenta que o BC tem para combater a inflação não funciona imediatamente. Então, não adianta olhar a inflação para curto prazo, tenho que olhar o que é o elemento estrutural de inflação mais de médio prazo”, afirmou.

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Na entrevista ao SBT, Campos Neto voltou a citar o risco de “desorganização de preços” ao ser perguntado sobre uma discussão entre o Congresso Nacional e integrantes do Ministério da Economia para uma saída fora do teto de gastos para financiar o Renda Brasil, novo programa social que o governo pretende tirar do papel para substituir o Bolsa Família.

O presidente do BC disse não participar desses debates, mas alertou para os riscos de uma solução como essa. “Qualquer saída que for percebida como uma saída que não gere convergência fiscal vai ter uma reação adversa e podemos ir para o caminho de desorganização de preço, como câmbio desvalorizar, curva de juros subir ainda mais, o prêmio de risco do Brasil subir ainda mais”, afirmou.