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Tensões em torno de oferta de ações do BB levam a destituição de executiva do BNDES

Na quarta-feira, a Coluna do Broadcast revelou que 20.785.200 ações do BB de posse da União ficariam de fora da oferta

Por Vinicius Neder
Atualização:

As tensões entre a diretoria e técnicos da área responsável pela gestão da carteira de participações acionárias do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) levaram à destituição de uma executiva da área jurídica da instituição de fomento, disseram duas fontes sob condição do anonimato. As tensões, que giram em torno da estratégia para acelerar as vendas da carteira do BNDES, se elevaram por causa da oferta pública de ações do Banco do Brasil (BB), anunciada nesta quinta-feira.

Na quarta-feira, a Coluna do Broadcast revelou que 20.785.200 ações do BB de posse da União ficariam de fora da oferta, que venderá papéis em Tesouraria do próprio BB e que estão na carteira do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa. Confirmada nesta quinta-feira pelo BB, a oferta poderá movimentar R$ 5,7 bilhões. O BB transferiu essas ações de posse da União para o BNDES em agosto, para serem vendidas.

Sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no centro do Rio de Janeiro Foto: Fabio Motta/ Estadão

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Conforme uma fonte ouvida pela Coluna do Broadcast, não houve tempo hábil para seguir todos os trâmites necessários para cumprir exigências burocráticas internas do BNDES para incluir esse lote da União na oferta anunciada nesta quinta-feira. Segundo outra fonte ouvida nesta quinta-feira, as regras internas do BNDES exigiriam pareceres jurídicos e técnicos para justificar a precificação dos papéis do BB conforme definidos na oferta.

Divergências em torno dessas regras internas levaram nesta quinta-feira à destituição de Luciana Tito, executiva responsável pela parte operacional da Área Jurídica, que atende as diferentes setores do BNDES. Procurado na noite de quinta-feira, o BNDES disse que não comentaria o assunto.

Essas divergências estão inseridas num contexto de tensões. Como mostrou o Estado na terça-feira, 1, uma fonte que pediu para não se identificar disse que o BNDES não tem ampliado as vendas de ações da Petrobrás nos últimos meses por causa de divergências entre a diretoria e “alguns funcionários” sobre a forma de fazer essas operações. As tensões passam justamente pela opção entre fazer ofertas públicas, como a do BB, ou usar a “mesa de operações” do BNDES – e pelo cumprimento dos normativos que balizam essas decisões.

Nos corredores do BNDES, circulam comentários sobre receios, entre os técnicos da área, de vender as ações baratas demais, segundo três diferentes fontes que pediram para não se identificar. Segundo os relatos ouvidos pelo Estado, os técnicos do BNDES temem ser questionados pelos órgãos de controle, no futuro, sobre a fixação dos preços e sobre os procedimentos para aprovar as vendas. Antes da destituição de Tito do cargo nesta quinta-feira, outros técnicos teriam se recusado a assumir cargos de chefia.

Tradicionalmente, o BNDES usa sua “mesa de operações” para comprar e vender ações. Nessa estratégia, técnicos que acompanham o mercado passam ordens de compra e venda para dezenas de corretoras. O banco vendeu assim papéis da Petrobrás em 2018 (R$ 4,5 bilhões) e no primeiro trimestre deste ano (R$ 3,6 bilhões).

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Desde a chegada de Gustavo Montezano como presidente do BNDES, as ofertas públicas têm sido colocadas como uma saída para acelerar a venda das ações, uma de suas metas ainda para este ano. Nessas operações, o detentor das ações anuncia ao mercado que está colocando à venda uma quantidade de papéis, o preço é fixado pelo mercado e venda, feita de uma vez. A Caixa vendeu R$ 7,3 bilhões em ações da Petrobrás numa oferta pública, em junho – Montezano levou para o BNDES, como diretor responsável por essa área, André Laloni, que desenvolveu a carreira no setor privado e era diretor financeiro da Caixa quando o banco fez a oferta.

Além de vender bilhões de uma só vez, outra vantagem das ofertas é atrair estrangeiros, garantindo demanda pela venda, disseram dois analistas ao Estado, em agosto. Por outro lado, para fazer a oferta, o vendedor precisa contratar bancos de investimento, que cobram pelo serviço. A oferta da Caixa, por exemplo, pagou R$ 98,5 milhões em comissões, segundo documentos públicos. Somando o gasto com taxas de registro e contratação de advogados e auditores, o custo total sobe para R$ 138 milhões.

A BNDESPar, empresa de participações do banco, é um dos maiores investidores institucionais do País. Segundo dados do fechamento do segundo trimestre, são R$ 106,9 bilhões apenas em ações de grandes companhias da Bolsa. Ou seja, se o BNDES optar por vender suas participações bilionárias majoritariamente por meio de ofertas, será um filão de ganhos para os bancos de investimento.

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Os normativos atuais, definidos sob o comando de Eliane Lustosa, diretora da BNDESPar ao longo de todo o governo Michel Temer, incluem, inclusive, regras para a contratação de bancos de investimentos para fazer ofertas públicas, disse uma das fontes ouvidas pelo Estado.

Em entrevista ao Estado na terça-feira, 1, Montezano defendeu a venda da carteira, informou que seus investimentos acumulam ganhos da ordem de R$ 40 bilhões e confirmou que a nova diretoria está trabalhando na mudança de procedimentos sobre como fixar os preços dos investimentos na carteira do banco, passo necessário para vender ao ativos.

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