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Dólar dispara 2,6% e Bolsa tem maior queda desde março com temor sobre mudança no teto de gastos

Reportagem do 'Estadão' mostrou que ala do governo estuda mudar a regra do teto de gastos para acomodar o novo Bolsa Família; Ibovespa fechou o mês com queda de 3,49%

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Por Redação
Atualização:

Uma forte deterioração atingiu os ativos brasileiros nesta sexta-feira, 30, com a Bolsa brasileira (B3) fechando em forte queda de 3,08%, aos 121.800,79 pontos, maior perda porcentual desde 8 de março. Perto do final do pregão, o principal índice acionário do País chegou a cair mais de mil pontos em uma hora. O real também foi duramente afetado, com o dólar hoje em alta de 2,57%, a R$ 5,2099. A moeda americana fecha julho com alta de 4,76%. 

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Com o desempenho negativo de hoje, o Ibovespa encerra o mês com queda de 3,49% - esta foi a segunda maior perda do ano, superada pela de 4,37% em fevereiro. Na semana, o recuo foi de 2,60%. No ano, o índice limita agora a alta a 2,34%. O cenário internacional também foi negativo, ante a divulgação de indicadores das economias americanas e europeias, mas não houve deterioração na proporção semelhante à que ocorreu na última hora com os ativos domésticos.

Após ter renovado máxima histórica em 7 de junho, na casa de 131 mil pontos, emendando ganhos entre março e aquele mês, o Ibovespa passou a enfrentar ventos adversos. Os fatores de incerteza se mostraram variados: de crise hidrológica, e ruídos que acentuam a perspectiva de medidas populistas na trilha para 2022. 

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

Hoje, desde cedo, a cautela interna foi alimentada por sinais como a possibilidade de alteração na regra do teto de gastos para acomodar ampliação de despesa com Bolsa Família, revelada em reportagem do Estadão desta sexta-feira. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse no final da manhã que, para se chegar aos R$ 300 de benefício no novo programa, como quer a ala política, são necessários gastos "inesperados" de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões.

"Cresceu essa percepção de que o Bolsonaro entregou o governo para o Centrão e vai liberar mais gastos para tentar recuperar a popularidade. E isso estressou bastante o mercado", afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, ressaltando que na semana que vem são retomados os trabalhos da CPI da Covid, com fim do recesso parlamentar.

"O sentimento de cautela no mercado local foi acentuado pelo agravamento dos ruídos políticos, além das pressões inflacionárias e do risco de rompimento do teto de gastos. Ainda que a forte arrecadação tenha aliviado a preocupação com a situação fiscal no curto prazo, essa melhora é temporária. O dia foi de correção bem forte no Ibovespa", diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

Com popularidade em queda e a "folga" no orçamento, "o presidente (Bolsonaro) afirmou que pretende dar um aumento de 50% no valor médio do Bolsa Família e defendeu que o país se endivide para custear o programa social - ou seja, tudo que o mercado não quer ouvir em termos de fiscal", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, destacando também o déficit do setor público de R$ 65,5 bilhões no mês passado, divulgado hoje, "com dívida bruta a 84% do PIB".

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Assim, após ter saído do último fechamento de junho aos 126,8 mil pontos, os investidores acabaram aproveitando a temporada positiva de balanços de empresas como Vale ON, em queda de 5,89%, Ambev ON, de 2,86%, e Usiminas, de 1,30%. Dessa forma, apenas três ações do Ibovespa escaparam da correção distribuída por empresas e setores nesta sexta-feira: Telefônica Brasil, em alta de 0,39%, JBS, de 0,34% e Cielo, de 0,30%.

Na ponta negativa do índice de referência, Localiza cedeu 7,36% e Banco Inter, 5,99%. Entre os grandes bancos, segmento de maior peso no Ibovespa, as perdas desta sexta-feira ficaram entre 1,08% para Itaú PN e 2,50% para Bradesco ON. Petrobras PN e ON fecharam o dia respectivamente em queda de 3,24% e 2,59%.

Câmbio

Em dia de forte deterioração dos ativos domésticos, o dólar fechou em alta firme, na casa de R$ 5,20, com os efeitos da aversão ao risco no exterior sendo potencializados por temores de piora do quadro fiscal, em meio aos atritos em torno do Bolsa Família. Com variação de cerca de 13 centavos entre a mínima de R$ 5,20785 (logo na abertura) e a máxima de R$ 5,2139. Dólar para setembro fecha em alta de 2,61%, a R$ 5,2330.

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Operadores ressaltam que, como a moeda americana vinha de dois pregões de fortes perdas, abriu-se espaço hoje para um movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, o que pode ter potencializado o movimento de depreciação do real. Com o avanço sexta-feira, a desvalorização da moeda americana no acumulado da semana foi praticamente apagada, de apenas 0,01%. 

Lá fora, o índice DXY - que mede a variação da moeda americana frente a seis pares - subia cerca de 0,30% e operava na casa de 92,100 pontos, em meio a forte busca de investidores por títulos do Tesouro americano, cujas taxas recuavam. O dólar também subia em relação à maioria das divisas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

A despeito da deterioração dos ativos domésticos nesta sexta-feira, a operadora da B.Side Investimentos, Viviane Pereira, vê ainda uma tendência tanto de apreciação do real, caso o Banco Central aumente a taxa Selic em 1 ponto porcentual na semana que vem, para 5,25% ao ano, e adote um tom duro com a inflação, sinalizando mais aperto monetário. /LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO 

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