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C6 quer ‘divórcio’ com a TIM, sua sócia, mas operadora não concede separação

Banco digital e a companhia de telefonia firmaram, há um ano, parceria para captação de clientes; no entanto, o C6 encaminhou à TIM, há algumas semanas, pedido de rescisão do contrato - caso foi parar na arbitragem

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

A lua-de-mel durou pouco. Um ano após firmarem parceria para captação de clientes em troca de ações, o C6 Bank e a TIM entraram em um processo que pode resultar no fim do casamento. O Estadão/Broadcast apurou que o C6 encaminhou à TIM, há algumas semanas, uma notificação pedindo a rescisão do contrato. A resposta da tele foi um “não”, acompanhado de uma liminar judicial garantindo a manutenção do acordo.

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Sem entendimento entre as partes, a TIM decidiu recorrer à arbitragem para assegurar que o contrato continue de pé. O processo corre no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Enquanto não há desfecho da arbitragem, o contrato entre as partes continua vigente graças ao efeito da liminar.

O que está em jogo é a parceria firmada em março de 2020, segundo a qual os clientes da tele que abrem uma conta no C6 ou pagam suas recargas e faturas por lá ganham bônus no pacote de dados. Trata-se de um incentivo para aumentar a base de usuários no banco digital. Em troca, a operadora recebe o direito de subscrever ações do C6. A fatia no bolo aumenta à medida que a tele encaminha clientes para o parceiro.

Para o C6, a TIM não está se esforçando o bastante para atrair clientes para a fintech. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Participação da operadora

O Estadão/Broadcast apurou que a TIM pode atingir até 14,5% de participação no C6. Com um detalhe precioso: a tele não pode ser diluída em caso de potenciais aumentos de capital na instituição financeira ou entrada de novos sócios – algo sensível para o banco, que vislumbra uma abertura de capital em Bolsa no futuro. 

Desde o começo do acordo, 3 milhões de usuários da operadora já abriram contas no C6, o que representa um terço do total de 9 milhões de clientes do banco digital. Isso já garantiu à tele uma fatia de 2,9% na instituição financeira. Mantido o ritmo atual de 400 mil clientes convertidos por mês, a operadora pode atingir a fatia de 14,5%, em cerca de três anos.

Briga entre as partes

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Aos olhos do C6, a sócia não está mobilizando todos os investimentos necessários para fazer propaganda da parceria e impulsionar a conversão de clientes. Apesar do ganho de 3 milhões de contas, o movimento estaria muito abaixo do potencial, uma vez que a operadora tem 50 milhões de clientes no País.

A escala é um passo vital na estratégia de crescimento do C6, banco digital jovem, fundado em 2018 pelo empresário Marcelo Kalim, e que até a metade do ano passado contava com 2 milhões de clientes.

Para as fintechs – como são chamadas as startups do ramo financeiro –, a escala é necessária como forma de diluir os custos das operações. Essas empresas não têm lojas físicas e, em geral, se diferenciam dos bancões tradicionais por não cobrarem tarifas por manutenção de conta ou uso de cartões. A estratégia é ganhar dinheiro com os juros das operações de crédito e outros serviços.

TIM não quer divórcio

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Já a TIM não quer nem ouvir falar em rescisão de contrato porque o negócio está se revelando extremamente lucrativo. No último trimestre, a companhia pagou R$ 12,4 milhões pelo direito de subscrição de 2,9% de ações no C6 – ativo que foi contabilizado no balanço a um valor de R$ 323 milhões. 

A parceria ficou ainda mais atrativa para a TIM depois de o banco americano de investimentos JP Morgan comprar 40% de participação no C6 no mês passado. O valor da transação não foi revelado, mas fontes informaram ao Broadcast que a aquisição movimentou cerca de R$ 10 bilhões – o que implica em um valor de mercado de R$ 25 bilhões do C6. Portanto, se a TIM chegar a 14,5% de participação no negócio, isso representaria um patrimônio de R$ 3,6 bilhões no seu balanço.

Com as receitas de telecomunicações estagnadas, todas as operadoras têm buscado parcerias para usar sua gigantesca base de clientes como vitrine na venda serviços de outros setores, em troca de comissões ou ações. A própria TIM fechou este mês acordo com a Kroton para a criação uma empresa de cursos a distância. A Kroton entra com a plataforma tecnológica, conteúdos, marca e gestão, enquanto a TIM encaminha clientes em troca de uma participação crescente na sociedade – o limite aqui é de 30%.

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O que dizem as empresas

Procuradas, TIM e C6 disseram que não comentam o processo de arbitragem. A TIM informou esta semana, em seu balanço, que o processo de arbitragem aberto contra o C6 servirá para discutir a "interpretação de determinadas cláusulas dos contratos que regem a parceria". Sem entrar em detalhes do teor da discussão, a tele citou que "em caso de perda a parceria poderá ser rescindida".

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