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73% dos profissionais em home office preferem trabalho híbrido

Embora algumas empresas se organizem para retorno 100% presencial, mesmo em atividades de escritório, trabalhadores querem sistema misto, diz pesquisa de Talenses com Fundação Dom Cabral

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Por Ludimila Honorato
Atualização:

Enquanto algumas empresas já anunciam ou estudam o retorno ao trabalho 100% presencial, pesquisas com funcionários em home office mostram que eles se adaptaram às atividades em casa e indicam o modelo híbrido como o mais adequado para a nova realidade do mercado de trabalho. Um dos levantamentos mais recentes foi feito pelo Talenses Group com a Fundação Dom Cabral (FDC), segundo o qual 72,7% dos entrevistados acreditam que o regime misto é o que mais se adapta às funções que realizam.

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Esse desejo dos profissionais contrasta com os planos das empresas. Pesquisa da KPMG feita entre julho e agosto mostra que 52% das companhias desejam que a operação presencial retorne ainda neste ano. Outras 15% já descartaram completamente o home office e querem voltar ao modelo pré-pandemia.

A preferência dos funcionários é fundamentada, na pesquisa da Talenses, uma vez que eles consideram o sistema misto como forma de maximizar produtividade e eficiência. Já os que preferem o home office integral são 23%, e apenas 4,41% votam no regime totalmente presencial. A pesquisa foi realizada em setembro deste ano com 686 trabalhadores, dos quais 56,6% ainda atuavam de casa, 10,2% já estavam no escritório e 33,1% iam de forma alternada ou quando necessário.

Segundo Luiz Valente, CEO da consultoria Talenses Group, as empresas estão tentando contornar uma situação atípica dentro de seus próprios cenários e, na prática, o modelo remoto ou até mesmo híbrido não será possível, como em indústrias, companhias de prestação de serviço e comércio. Do lado dos funcionários, eles começaram a repensar o estilo de vida.

"E aí vemos uma questão de expectativa versus realidade entre colaborador e empresa. Se para alguns o modelo remoto e híbrido faz sentido, para outros não. O mesmo acontece para o modelo presencial. Esse conceito entre expectativa e realidade é o que gera algumas frustrações", diz Valente. "O que o colaborador deseja é o poder de escolha, mas quantas empresas realmente conseguem oferecer uma realidade que atenda a todos os perfis e vontades dos profissionais? Dessa forma, os profissionais que se adaptaram ao modelo remoto e não desejam voltar ao presencial já estão procurando alternativas de trabalho."

Demanda por equilíbrio no trabalho motiva funcionários a optarem por modelo híbrido. Foto: Unsplash/@thoughtcatalog

Especialistas avaliam que cabe à empresa definir o modelo de trabalho e muitas têm feito avaliações internas para entender a preferência dos colaboradores. Quase 52% das companhias vão adotar o regime híbrido, segundo a pesquisa da Talenses com a FDC. Mas é importante levar em consideração também não só o desejo dos funcionários como os benefícios para a companhia. Redução de custos, seja com aluguel de salas ou despesas fixas, já são a principal vantagem. 

Além disso, 86,3% dos entrevistados relatam que a produtividade é alta ou muito alta no home office, sem contar que a vida pessoal ganha novos sentidos. Para 49,4% dos trabalhadores, ficar mais tempo em casa possibilitou que se dedicassem mais a projetos pessoais. Estar com a família, fazer pausas em um ambiente confortável e eliminar o deslocamento até o trabalho têm surtido efeitos positivos na saúde mental.

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Contrapontos ao home office

É claro que a realidade é distinta para cada um e se aplica apenas aos 11% dos brasileiros que trabalharam de casa em 2020, segundo dados da Pnad Covid-19, divulgada este ano pelo Ipea. O perfil dessas pessoas também é muito específico, formado na maioria por mulheres, pessoas brancas e altamente escolarizadas.

Valente pontua que, ao fazer um recorte de gênero, geração e condições sociais, há peculiaridades que levam a entender porque alguns modelos funcionam para uns e não para outros. "Em relação ao gênero, sabemos que a sociedade ainda conta com diferenças entre o papel esperado pelo homem e pela mulher dentro da dinâmica familiar, que impactam a produtividade de cada um deles. Grande parte das mulheres prefere o modelo híbrido porque, dessa forma, em muitos casos, fica mais fácil coordenar as dinâmicas de trabalho."

Enquanto isso, a geração mais jovem prefere ir mais vezes ao escritório pela oportunidade de socialização, latente nessa fase da vida, networking e aprendizado. Quando se analisa o fator social, o CEO diz que o home office só faz sentido para aqueles que podem tornar o ambiente familiar em um local de trabalho saudável.

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"Há pessoas com condições mais simples de vida que não têm esse ambiente adequado para o trabalho dentro de casa, por diferentes razões, e por isso, muitas vezes, preferem ir ao escritório", observa. Por outro lado, são essas mesmas pessoas que, geralmente, moram mais distante do local de trabalho. "Existe um desafio grande das empresas conseguirem oferecer o melhor subsídio para todos os seus colaboradores, mas a evolução acontecerá com o tempo."

A pesquisa também revela uma face negativa do home office. Cerca de um terço afirma que o trabalho consome a maior parte do tempo e 85,2% concorda total ou parcialmente que a carga de trabalho aumentou, mesmo depois de um ano da pandemia. Sem contar que estar em casa com outras pessoas, principalmente crianças, pode prejudicar a concentração.

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Segundo os entrevistados, os fatores que mais afetam a produtividade são a necessidade de contato com outras pessoas da empresa (44%), outros membros da família que moram junto (35,4%), celular, televisão, websites e redes sociais (25,81%) e problemas pessoais de concentração no ambiente de casa (23,66%).

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Mesmo assim, os funcionários estão conscientes de que não precisam trabalhar mais para mostrar mais produtividade: 80,3% deles seguem o mesmo horário de trabalho de quando estavam no presencial ou possuem horários mais flexíveis e 19,6% tiveram de se adaptar ou estender horários. Assim, o sistema de trabalho que alterna dias em casa e no presencial vem como uma resposta à demanda por equilíbrio, diz Paul Ferreira, professor de estratégia e diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral.

"O modelo híbrido é uma maneira de dar voz a uma larga maioria de indivíduos que apontam preferir um regime remoto equilibrado de duas a três vezes por semana. A pandemia ajudou a entender que as capacidades de operar com produtividade e desempenho máximos varia dramaticamente de acordo com preferências pessoais, bem-estar e um conjunto de condições familiares e habitacionais. Portanto, os indivíduos estão querendo um balanço entre trabalho no escritório e trabalho em casa ou remoto, valorizando o modelo híbrido", afirma.

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