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Após propor acordo, Tsipras ‘vira’ e prega voto ‘não’ em plebiscito

Premiê passou de negociador a desafiante da União Europeia ao pedir que população negue a adoção de medidas de austeridade

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Por Fernando Scheller
Atualização:

Texto atualizado às 15h

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Em menos de 24 horas, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, passou de negociador a desafiante da União Europeia. Na terça-feira, ele havia enviado carta aos principais credores da Grécia - entre eles o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) - afirmando seu compromisso em realizar os cortes impostos pela União Europeia, incluindo medidas impopulares na Grécia, como novas altas de impostos e cortes em benefícios sociais. No Twitter e na televisão, no fim da tarde de quarta, o discurso novamente virou.   O primeiro-ministro voltou a defender o voto no "não" às condições impostas pela União Europeia ao país para a permanência no bloco econômico e na zona do euro no plebiscito marcado para o próximo domingo. "Nós devemos aos nossos pais, aos nossos filhos, a nós mesmos. É o nosso dever. Nós devemos à história", disse Tsipras, que pertence ao partido de extrema esquerda Syriza e assumiu o poder em janeiro. "Vamos virar a página, garantindo a democracia e a nossa convicção em um novo acordo."   Na carta aos credores, escrita um dia antes, a posição mais benevolente do governo grego vinha acompanhada de um pedido: € 29 bilhões em empréstimos para cobrir todo o pagamento de serviço da dívida grega pelos próximos dois anos. A reação do Eurogrupo à carta, no entanto, foi de desconfiança - já que a Grécia pediu repetidas vezes mais dinheiro. Por isso, rejeitou o acordo. Tsipras havia dito na segunda-feira, um dia antes do envio da carta, que a posição grega na UE atualmente era “humilhante”. Desta forma, o primeiro-ministro voltou ao ataque.

Após teleconferência, o Eurogrupo concordou em aguardar os resultados do referendo para retomar as negociações com o governo da Grécia, disse o ministro das Finanças da Eslováquia, Peter Kazimir. "O Eurogrupo se uniu na decisão de esperar o resultado do referendo da Grécia antes de voltar a negociar", disse ele no Twitter.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras Foto: AFP

A Alemanha se dizia disposta a negociar, apesar do calote da Grécia ao pagamento de € 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), cujo prazo venceu na terça-feira - trata-se do primeiro país desenvolvido a deixar de honrar uma dívida com o Fundo. No entanto, na tarde de terça, a chanceler Angela Merkel afirmou que a Europa é forte o suficiente para esperar alguns dias para conhecer o desfecho da decisão do povo grego em relação à UE.  Pesquisa. Segundo a primeira pesquisa publicada desde que Tsipras anunciou uma consulta popular para perguntar se a população aceita ou não as exigências dos credores em troca de mais ajuda financeira, 46% dos entrevistados afirmaram que apoiam o voto "não" e 37% disseram apoiar o voto "sim". Antes de o governo decretar controles de capital e fechar os bancos gregos o apoio ao "não" era de 57% e o apoio ao "sim" era de 30%. A comparação foi feita pelo instituto ProRata e publicada pelo jornal Efimerida ton Syntakton. Na média das entrevistas feitas antes e depois do feriado bancário estendido, o apoio ao "não" é de 54% e ao "sim", de 33%.   Após a pesquisa, o movimento pelo "não" às condições impostas pela Europa à Grécia parece ter sido reforçado. Nas ruas de Atenas, as faixas com a palavra "oxi" tomam conta de postes, enquanto quase não se vê o movimento pelo "nai" (sim). Um grande cartaz foi colocado no prédio do Ministério da Economia grego: "Não à chantagem, não à austeridade". A faixa foi logo retirada. Embora Tsipras tenha voltado a afirmar ontem que o referendo servirá para pressionar condições melhores às negociações, o voto no "não" embute um risco de que o recado seja entendido como a vontade popular de deixar o bloco econômico. 

É justamente este o receio dos partidários do "sim", que protestaram na terça à noite em frente ao parlamento grego. Caso a decisão de aceitar as condições para permanência na UE consiga virar o jogo e vencer o referendo no domingo, o primeiro-ministro fica numa situação politicamente difícil. Na terça-feira à noite, os gritos de guerra dos manifestantes sob a chuva pediam a saída de Tsipras do cargo.

Aposentados. Mil agências bancárias da Grécia reabriram nesta quarta-feira para atender exclusivamente aposentados. Em alguns bancos, haverá escalonamento do atendimento para evitar longas filas. No Alpha Bank, por exemplo, serão atendidos os clientes com sobrenomes iniciados com as letras A até I. Outros dois grupos serão atendidos nos próximos dias.

Não havia grandes filas ou aglomerações nas agências visitadas pelo Estado, embora algumas aglomerações tenham ocorrido no início da manhã. Alguns clientes "comuns" (que não são aposentados ou pensionistas) até conseguiram entrar nas agências, mas não foram atendidos. O limite para saque para os aposentados sem cartão de débito é de € 120. Para os que sabem usar o atendimento eletrônico, vale a mesma regra vigente para todos os correntistas: € 60 por dia.

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No centro de Atenas, nas proximidades das principais agências bancárias da capital, um pequeno e barulhento grupo de aposentados e funcionários demitidos do Ministério da Fazenda grego se reuniu em um protesto. Os ex-faxineiros dispensados há dois anos faziam um piquete ao lado de aposentados que reclamavam o direito de tirar todo o salário do mês, em vez de ter de viver "apertados" com € 120. 

(Com informações da Dow Jones e Reuters)

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