EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Parasitas e hospedeiros

O ministro Paulo Guedes não se notabiliza por usar luvas de pelica, mas tem lá sua parcela de razão

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Os funcionários públicos protestaram com veemência quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou que eles são “parasitas”, que estão matando o hospedeiro. Mas, por experiência própria, a população tende a concordar com o ministro.

PUBLICIDADE

Guedes chegou a pedir desculpas. Disse, ainda, que a declaração foi tirada do contexto. Então, vai aqui a íntegra do que ele falou na Fundação Getúlio Vargas, dia 7, no Rio:

“O governo está quebrado. Gasta 90% da receita com salário e é obrigado a dar aumento de salário. O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo, o hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático. Não dá mais. A população não quer isso, 88% da população são a favor inclusive de demissão de funcionalismo público, de reforma. Nos Estados Unidos, o cara fica quatro, cinco anos sem reajuste. De repente, quando sai um reajuste, todo mundo diz: ‘Oh, muito obrigado, prazer’. Aqui o governo é obrigado a dar, porque o dinheiro está carimbado, e ainda leva xingamento, ovo, não pode andar de avião.”

As generalizações são perigosas. Ninguém mete nesse pacote nem os professores, nem os funcionários da Polícia Federal, nem os diplomatas. Mas todos sabemos o que é enfrentar a falta de empenho do pessoal lotado em tantas repartições públicas.

O ministro Paulo Guedes em evento sobre a agenda ecômica em São Paulo. Foto: Helvio Romero/Estadão

Não é à toa que este ainda é o país dos cartórios e dos despachantes – esses profissionais remunerados para conseguir dar andamento na papelada sempre enroscada. Para abrir ou fechar uma empresa é um calvário. E, no Judiciário, todos sabemos o quanto demora a canetada final de quem está lá para dirimir divergências e punir culpados.

Publicidade

Apesar de tudo, não dá para ignorar os progressos. A Receita Federal, por exemplo, facilitou em muito a vida do contribuinte quando digitalizou a declaração de rendimentos. As prefeituras passaram a trabalhar com nota fiscal digital. Foi enorme o benefício que o cidadão comum obteve com a criação dos sistemas de poupa tempo. O Judiciário vem digitalizando os processos. Até mesmo o voto passou a ser eletrônico, sistema que reduziu o tempo e os erros na apuração.

Pode-se argumentar ainda que a maior parte dessa lerdeza é consequência do excesso de burocracia e não propriamente do encostamento do corpo do servidor. A verdade é que fica mesmo difícil separar uma coisa e outra. Todos sabemos o quanto a criação de dificuldades, especialmente no setor público, é a principal razão para o despacho de facilidades e de soluções que deveriam ser automáticas.

Mas o ministro Paulo Guedes tem razão quando diz que a população se ressente dos privilégios concedidos ao funcionalismo público. Enquanto o setor privado amarga o desemprego de 12,6 milhões de pessoas e o emprego informal de outros 38,4 milhões enfrenta queda de renda e a redução das aposentadorias, os funcionários públicos gozam de estabilidade de emprego, reajustes mais generosos de salários e benefícios especiais nas aposentadorias.

O ministro Paulo Guedes não se notabiliza por usar luvas de pelica e pode não estar sendo politicamente correto em suas falas. Mas tem lá sua parcela de razão. E são essas coisas e outras parecidas que estão aí a exigir reforma administrativa radical.

CONFIRA

Publicidade

» Varejo em retração

Depois da fraqueza manifestada pela indústria, foi a vez do varejo mostrar queda das vendas em dezembro (mês do Natal) em relação a novembro. O recuo pode parecer pequeno, mas foi generalizado. É preciso ver, também, quanto a alta da carne, agora em reversão, afetou o comércio dos supermercados. De todo modo, o desempenho fraco do varejo é mais um indicador que parece restringir o avanço do PIB neste ano. O mercado deve cortar alguma coisa nas suas projeções de crescimento, então em 2,5%.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.