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'Para reforçar a mensagem de capitalização, Bolsonaro deve se envolver', diz Wilson Ferreira Júnior

Presidente da Eletrobrás renunciou ao cargo no domingo; em coletiva, Ferreira Júnior disse que faltou 'aumentar a capacidade de investimentos da estatal' e que sempre teve o apoio de Paulo Guedes e Bento Albuquerque

Por Denise Luna (Broadcast) e
Atualização:

RIO - Diante da dificuldade para aprovar a capitalização da Eletrobrás, o presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior., renunciou na noite de domingo, 24, ao cargo. Nesta segunda, 25, o executivo confirmou a sua ida para a presidência da BR Distribuidora, no lugar de Rafael Grisolia. Ferreira Júnior vai, porém, permanecer no Conselho de Administração da companhia de energia e se comprometeu a ficar no comando da empresa até 5 de março. A data da entrada na BR, porém, vai depender de se terá que cumprir quarentena, como ocorre com todo servidor público que vai para uma empresa privada. Em alguns casos, o período pode ser de até seis meses.

"O que ficou faltando fazer na Eletrobrás foi aumentar a capacidade de investimentos. Se eu não consigo ter uma perspectiva para o processo acontecer, a minha função fica perdida", disse a jornalistas em entrevista online, avaliando que o seu sucessor pode vir da própria empresa. “Temos quadro para isso”, afirmou. Ele informou, no entanto, que a administração da companhia pretende avaliar outros profissionais no mercado, por meio da contratação de uma consultoria de headhunter.

Wilson Ferreira Junior, CEO da Eletrobras Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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Ferreira Júnior assumiu a presidência da Eletrobrás em 2016, com a missão de capitalizar a principal holding do setor elétrico. A companhia é responsável por 40% da geração de energia elétrica do País e quase metade das linhas de transmissão. Na época, a empresa registrava alto endividamento e sucessivos prejuízos, o que foi revertido pelo executivo. ao longo das mudanças visando à capitalização.O quadro de empregados foi reduzido: saiu de26 mil pessoas para 12 mil em 2020.

O projeto de lei de capitalização da Eletrobrás enfrentou desde o início a resistência de parlamentares. Sofreu novo revés no fim da semana passada. Foi quando o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que concorre à presidência do Senado, afirmou que a venda da empresa não era prioridade da Casa. Diante do impasse, Ferreira Júnior. afirmou em coletiva online, horas após a renúncia, que o processo se tornará ainda mais difícil nos próximos anos, com a proximidade das eleições.

O executivo afirmou ter tido o apoio dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Destacou, porém, que para o processo avançar seria desejável maior participação do presidente Jair Bolsonaro. "Para ter o reforço dessa mensagem (de capitalização), é importante que Bolsonaro se envolva", afirmou.

A politização da venda da Eletrobrás foi o principal fator da saída de Ferreira Júnior, na opinião do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudo do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, a fragilidade política do governo está impedindo a venda da estatal, e a vaga deixada por ele deve ser ocupada por algum membro do Centrão. O grupo parlamentar, conservador e de baixa nitidez ideológica, se aproximou mais do governo no ano passado.

“Ele (Ferreira Júnior) percebeu que o cenário de privatização é só o campo político, que ele não domina; quem entrar não vai levar a privatização à frente porque perde apoio político", explicou o pesquisador. Para ele, o ministério da Economia, que apoiava a venda, também está fragilizado e sem um programa para seguir.

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Para Castro, o fato de a privatização ter entrado na esfera política indica que não será levada adiante, "à medida da própria fragilidade do governo, que vai ter que buscar apoio, fazer alianças".

Para a economista, advogada e sócia do Sérgio Bermudes Advogados, Elena Landau, o processo de privatização da Eletrobras começou errado e a saída de Wilson não muda nada no processo. Ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ela avaliou que o principal erro foi dar ao Congresso o poder de escolher o modelo de capitalização. Agora, ela avalia que a venda ou será enterrada ou o governo vai pagar caro para pela aprovação dos parlamentares.

"O processo foi errado desde o início, porque deu ao Congresso Nacional o poder de definir o modelo, isso nunca aconteceu na privatização. Só tinha que pedir ao Congresso para incluir de volta no PND (Programa Nacional de Desestatização), não tem que discutir tudo com o Congresso", disse Landau.

A notícia da renúncia pegou o mercado de ações em pleno feriado do aniversário de São Paulo. As ações já haviam caído na sexta-feira com a declaração de Pacheco, mas podem perder mais na abertura do pregão de terça-feira.

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"É mais uma notícia bem negativa e no cômputo, no olhar frio, tende a pesar negativamente para o papel. O fluxo de notícias tem sido bem desafiador para a Eletrobrás e vai precisar de uma visão de muita boa vontade e de longo prazo para o investidor, porque vamos ter volatilidade no curto prazo", disse o analista técnico da Ativa Investimentos, Marcio Loréga.

A saída do executivo fez os papéis da empresa despencarem na Bolsa de Nova York. As ADRs (recibos de ações) dos papéis ON da Eletrobrás fecharam com queda de 11,76% em Nova York, a quinta maior da Bolsa americana, após chegaram a cair quase 15%. As ADRs dos papéis preferenciais recuaram 8,5%. Nos últimos cinco dias, os ADRs da estatal acumulam queda de 23,5% em Wall Street.

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