02 de setembro de 2021 | 15h05
Atualizado 02 de setembro de 2021 | 18h35
O investidor ficou na defensiva na sessão desta quinta-feira, 2, monitorando a sessão da Câmara que analisou os destaques da reforma do Imposto de Renda, após o texto-base ter sido aprovado em votação relâmpago na noite da última quarta-feira. Em resposta, a Bolsa brasileira (B3) fechou em forte queda de 2,28%, aos 116.677,08 pontos, com o setor bancário liderando as perdas. Já o dólar reverteu a queda ante o real fechou estável, com perda marginal de 0,03%, a R$ 5,1832.
Foi a primeira vez desde 20 de agosto que o Ibovespa voltou a operar abaixo de 117 mil pontos no intradia, atingindo hoje o menor fechamento desde 18 de agosto. Na semana, o índice amplia as perdas a 3,32%, com 1,77% de baixa nestes dois primeiros dias de setembro - no ano, mais uma vez o índice oscila para o negativo, em queda de 1,97%. Hoje, o índice brasileiro operou descolado do mercado de Nova York, que registrou recorde de fechamento.
IR: Câmara conclui votação e reduz para 15% cobrança sobre lucros e dividendos; texto vai ao Senado
Duramente afetados pela votação do projeto, os papéis do setor bancário foram os mais afetados pela decisão. Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander cederam 3,81%, 4,14%, 3,61% e 5,23% cada. Os papéis foram pressionados pelo "fim do JCP (juros sobre capital próprio) e o corte menor do que o esperado da CSLL", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
O principal ponto do projeto foi a mudança que reduz a alíquota sobre dividendos distribuídos à pessoa física. No texto-base, a cobrança seria de 20%, mas foi reduzida a 15% após um acordo liderado por partidos do Centrão. Hoje, esses rendimentos são isentos de IR. Empresas do Simples e do lucro presumido (muito usado por profissionais liberais) com faturamento de até R$ 4,8 milhões por ano permanecem isentas.
A avaliação preliminar é a de que os ganhos com a taxação de dividendos não vão compensar a perda de receita com os cortes de alíquotas de IR para pessoas jurídicas. Isso em meio à busca de uma solução para o imbróglio dos precatórios e de espaço no Orçamento de 2022 para o reajuste do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil.
A decepção do mercado com a aprovação do relatório do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) se acresce à derrubada de minirreforma trabalhista no Senado, com a qual o governo pretendia estimular a geração de empregos, e a aprovação de mudança em planos de saúde de estatais, que pode dificultar privatizações como a dos Correios.
O conjunto da obra contribui para reforçar a percepção de dificuldade do governo em dar direção à agenda, perdendo precedência sobre o Congresso, como também visto em episódios recentes, como o da inclusão de 'jabutis' na MP da Eletrobras. "Democracia é isso: você chega com uma proposta e ela sofre alteração", disse hoje o ministro da Economia, Paulo Guedes, já antecipando que a reforma tributária também deve ter "um ajuste ou outro" quando for ao Senado.
Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, o risco fiscal sentido pelo mercado, que afeta condições financeiras e previsões para atividade, resulta de um conjunto de fatores, como a questão dos precatórios, a fonte de financiamento do Bolsa Família e a reforma do Imposto de Renda. Segundo ele, o "desvio da rota" na reforma do IR e no projeto que permitiu a privatização da Eletrobras decorre da falta de esforço do governo para chegar ao desenho correto.
Nem a recuperação do petróleo, em alta em torno de 2%, contribuiu para que Petrobras, com PN e ON em quedas de 1,63% e 1,73% cada, mitigasse perdas que se espalharam por empresas e setores na Bolsa, na esteira da aversão aos riscos provocada pela agenda econômica do governo. Na ponta negativa do Ibovespa, setores com exposição à economia doméstica, como Cielo, em baixa de 6,47%, Via Varejo, de 6,13%, e Lojas Americanas, de 5,86%.
A deterioração aguda dos ativos domésticos ao longo da tarde acabou respingando no mercado de câmbio e impediu que o real se beneficiasse de forma mais abrangente da onda global de enfraquecimento da moeda americana, na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) de agosto nos Estados Unidos.
O dólar chacoalhou pela manhã e chegou até a operar em alta, correndo até a máxima de R$ 5,2006. Mas perdeu força ainda na etapa matutina, seguindo a maré positiva para emergentes, e desceu até a mínima de R$ 5,1431. Hoje, a moeda para outubro cedeu 0,06%, a R$ 5,2050.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o mercado se sente mais confortável para trabalhar com o dólar próximo de R$ 5,20 e acaba corrigindo excessos no fim do dia, com realização de lucros e recomposição de posições. "A tendência seria de dólar para baixo com o exterior e o fluxo que está vindo. Mas o dólar não cai mais porque existe essa apreensão com a questão política e tem gente já ajustando posições de olho no feriado de 7 de setembro", afirma Galhardo.
No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em queda de mais de 0,20% ao longo do dia, na casa de 92,200. A moeda americana também apanhou em relação à maioria dos emergentes, à exceção do rand sul-africano, que vinha de um forte rali de alta e acabou cedendo hoje. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO
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