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Votação da reforma do IR derruba ações de bancos e faz Bolsa cair 2,3%; dólar fica estável

Texto foi aprovado em votação relâmpago na Câmara na noite da última quarta-feira e deputados concluíram hoje a análise dos destaques; papéis do Santander e Banco do Brasil caíram 5,23% e 4,14% cada

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Por Redação
Atualização:

O investidor ficou na defensiva na sessão desta quinta-feira, 2, monitorando a sessão da Câmara que analisou os destaques da reforma do Imposto de Renda, após o texto-base ter sido aprovado em votação relâmpago na noite da última quarta-feira. Em resposta, a Bolsa brasileira (B3) fechou em forte queda de 2,28%, aos 116.677,08 pontos, com o setor bancário liderando as perdas. Já o dólar reverteu a queda ante o real fechou estável, com perda marginal de 0,03%, a R$ 5,1832.

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Foi a primeira vez desde 20 de agosto que o Ibovespa voltou a operar abaixo de 117 mil pontos no intradia, atingindo hoje o menor fechamento desde 18 de agosto. Na semana, o índice amplia as perdas a 3,32%, com 1,77% de baixa nestes dois primeiros dias de setembro - no ano, mais uma vez o índice oscila para o negativo, em queda de 1,97%. Hoje, o índice brasileiro operou descolado do mercado de Nova York, que registrou recorde de fechamento.

Duramente afetados pela votação do projeto, os papéis do setor bancário foram os mais afetados pela decisão. Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander cederam 3,81%, 4,14%, 3,61% e 5,23% cada. Os papéis foram pressionados pelo "fim do JCP (juros sobre capital próprio) e o corte menor do que o esperado da CSLL", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O principal ponto do projeto foi a mudança que reduz a alíquota sobre dividendos distribuídos à pessoa física. No texto-base, a cobrança seria de 20%, mas foi reduzida a 15% após um acordo liderado por partidos do Centrão. Hoje, esses rendimentos são isentos de IR. Empresas do Simples e do lucro presumido (muito usado por profissionais liberais) com faturamento de até R$ 4,8 milhões por ano permanecem isentas.

A avaliação preliminar é a de que os ganhos com a taxação de dividendos não vão compensar a perda de receita com os cortes de alíquotas de IR para pessoas jurídicas. Isso em meio à busca de uma solução para o imbróglio dos precatórios e de espaço no Orçamento de 2022 para o reajuste do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil.

A decepção do mercado com a aprovação do relatório do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) se acresce à derrubada de minirreforma trabalhista no Senado, com a qual o governo pretendia estimular a geração de empregos, e a aprovação de mudança em planos de saúde de estatais, que pode dificultar privatizações como a dos Correios.

O conjunto da obra contribui para reforçar a percepção de dificuldade do governo em dar direção à agenda, perdendo precedência sobre o Congresso, como também visto em episódios recentes, como o da inclusão de 'jabutis' na MP da Eletrobras. "Democracia é isso: você chega com uma proposta e ela sofre alteração", disse hoje o ministro da Economia, Paulo Guedes, já antecipando que a reforma tributária também deve ter "um ajuste ou outro" quando for ao Senado.

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Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, o risco fiscal sentido pelo mercado, que afeta condições financeiras e previsões para atividade, resulta de um conjunto de fatores, como a questão dos precatórios, a fonte de financiamento do Bolsa Família e a reforma do Imposto de Renda. Segundo ele, o "desvio da rota" na reforma do IR e no projeto que permitiu a privatização da Eletrobras decorre da falta de esforço do governo para chegar ao desenho correto.

Nem a recuperação do petróleo, em alta em torno de 2%, contribuiu para que Petrobras, com PN e ON em quedas de 1,63% e 1,73% cada, mitigasse perdas que se espalharam por empresas e setores na Bolsa, na esteira da aversão aos riscos provocada pela agenda econômica do governo. Na ponta negativa do Ibovespa, setores com exposição à economia doméstica, como Cielo, em baixa de 6,47%, Via Varejo, de 6,13%, e Lojas Americanas, de 5,86%.

Câmbio

A deterioração aguda dos ativos domésticos ao longo da tarde acabou respingando no mercado de câmbio e impediu que o real se beneficiasse de forma mais abrangente da onda global de enfraquecimento da moeda americana, na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) de agosto nos Estados Unidos.

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O dólar chacoalhou pela manhã e chegou até a operar em alta, correndo até a máxima de R$ 5,2006. Mas perdeu força ainda na etapa matutina, seguindo a maré positiva para emergentes, e desceu até a mínima de R$ 5,1431. Hoje, a moeda para outubro cedeu 0,06%, a R$ 5,2050.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o mercado se sente mais confortável para trabalhar com o dólar próximo de R$ 5,20 e acaba corrigindo excessos no fim do dia, com realização de lucros e recomposição de posições. "A tendência seria de dólar para baixo com o exterior e o fluxo que está vindo. Mas o dólar não cai mais porque existe essa apreensão com a questão política e tem gente já ajustando posições de olho no feriado de 7 de setembro", afirma Galhardo.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em queda de mais de 0,20% ao longo do dia, na casa de 92,200. A moeda americana também apanhou em relação à maioria dos emergentes, à exceção do rand sul-africano, que vinha de um forte rali de alta e acabou cedendo hoje. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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