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Bolsa recua 0,9% um dia após decisões dos bancos centrais de Brasil e EUA; dólar cai

Mercado precificou hoje a preocupação do Banco Central brasileiro e do Federal Reserve com a escalada da inflação; queda das ações de commodities, em especial Petrobrás, afetaram o Ibovespa

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Por Redação
Atualização:

A Bolsa brasileira (B3) fechou em queda de 0,93%, aos 128.057,22 pontos nesta quinta-feira, 17, após precificar a preocupação dos bancos centrais dos Estados Unidos e Brasil com inflação, em dia também de votação da MP da Eletrobrás. No câmbio, a chance de um reajuste mais agressivo do Banco Central na Selic, que subiu a taxa em 0,75 ponto percentual ontem, ajudou na entrada de capital externo no País e fez o dólar fechar em queda de 0,61% a R$ 5,0275.

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As perspectivas de juros mais altos ao longo do tempo, aqui e no exterior, não fere de morte o otimismo que ainda predomina no Ibovespa em junho, que caminha para seu quarto mês de ganho consecutivo - embora possivelmente menor do que o visto em cada um dos três anteriores. Inflação, crise hídrica, negociações políticas debilitantes para propostas modernizadoras contribuem, no entanto, para mitigar parte do entusiasmo que se viu desde as revisões sobre PIB e contas públicas.

"Na decisão do Copom, o que mais chamou atenção, no comunicado, foram as preocupações relacionadas à inflação, em que cita especialmente a questão do risco hídrico, por conta do aumento das tarifas de energia. Menciona também os preços das commodities e uma preocupação mais para frente, que é a continuidade das reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa, que estão sendo negociadas agora no Congresso", diz Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.

B3,a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"Pra próxima decisão, daqui a 45 dias, (o BC) coloca aumento de 0,75 (ponto porcentual). No entanto, se a inflação permanecer mais elevada do que as expectativas, eles podem aumentar esse número, então é preciso estar bastante atento a isso, pra ver se será o quarto aumento consecutivo de 0,75 (pp) ou se ficará acima", acrescenta o estrategista.

"De maneira relevante, o comitê retirou a referência à normalização parcial da taxa de juros, indicando que encerrará esse ciclo com a Selic no patamar neutro. O movimento vai em linha do nosso cenário base, que inclui um ritmo continuado de altas de 0,75 pp nas próximas duas reuniões, seguidos de 0,5 pp e 0,25 pp, até atingir o nível neutro em 6,5% ao ano", diz Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Investimentos.

Para Thiago Nemézio, líder de alocação da Blue3, o comunicado do Copom deixou desta vez bem clara a "preocupação com a inflação", mostrando alguma surpresa com sua "resiliência". Ainda assim, mesmo com a perspectiva aberta para Selic mais alta ao fim do ano, as revisões para o PIB tendem a continuar contribuindo para o apetite por renda variável, notadamente Bolsa, diz o especialista.

Ainda assim, o Ibovespa teve hoje desempenho abaixo do observado em Nova York, no fechamento, com Dow Jones em queda de 0,62% e o Nasdaq, em alta de 0,87%. A queda refletiu o desempenho negativo dos setores de maior peso no índice, como commodities, bancos e siderurgia. O Ibovespa aprofundou perdas depois do meio da tarde, renovando mínima desta quinta-feira a 127.576,44 pontos, em queda então de 1,30%. Agora, os ganhos no mês se resumem a 1,46%, limitando os do ano a 7,60% - na semana, cede 1,07%

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A queda de preço do petróleo colocou pressão sobre Petrobrás PN e ON, em baixa de 3,47% e 3,08% no fechamento, enquanto Vale ON mostrava perda de 2,08%. Dia também negativo para as ações de bancos, após os ganhos do dia anterior: hoje, sob liderança de Banco do Brasil ON, com 2,38%.

Sobre a MP da Eletrobrás, o parecer apresentado pelo relator, senador Marcos Rogério (DEM-RO), aumenta a quantidade de energia que o governo terá que contratar de térmicas a gás, de 6 mil megawatts (MW) para 8 mil MW. Com o mercado já fechado, o texto foi aprovado com placar apertado no Senado.

"Considero importante a privatização da Eletrobrás, mas ela não pode ser feita a qualquer custo - e a negociação política, para aprovação, envolve custos que podem distorcer a finalidade a que se propunha a MP. Se o custo for muito alto, talvez o melhor a fazer é deixar para outro momento", diz Nemézio, da Blue3.  Eletrobrás ON e PNB fecharam, respectivamente, em baixa de 3,05% e 3,18%, entre ações as de pior desempenho na carteira Ibovespa nesta sessão.

Câmbio

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O aceno do Banco Central para a chance de elevar os juros em ritmo mais intenso em agosto ajudou o real a ter o melhor desempenho no mercado internacional nesta quinta, com relatos de ingressos de capital externo no País. O dólar testou os maiores níveis em dois meses ante moedas rivais, mas operou em queda durante todo o dia no Brasil, se aproximando novamente dos R$ 5,00. O ritmo de baixa da moeda americana se reduziu um pouco nos negócios da tarde, na medida em que outros mercados pioravam. O dólar para julho fechou em queda de 0,92%, a R$ 5,0135, na mínima do dia.

O comunicado mais duro do Banco Central pode levar o dólar a cair abaixo de R$ 5,00, avaliam participantes do mercado. Mas a dúvida é se o movimento vai durar ou será de curto prazo. Para o economista-chefe da JF Trust Gestão de Recursos, Eduardo Velho, o BC mais firme na elevação de juros favorece o dólar abaixo de R$ 5,00, mas a dinâmica de alta no exterior pode limitar esse movimento, na medida em que o Fed também passou a adotar um tom mais duro na sinalização de sua estratégia, o que pode desacelerar o fluxo de recursos para economias emergentes.

No mercado internacional, o dólar teve o dia de maior alta desde 20 de março, chegando ao maior valor ante o euro desde meados de abril, ressalta o analista sênior de mercados do Western Union, Joe Manimbo. A moeda americana subiu ao maior nível em seis semanas ante a libra e o dólar canadense, na medida em que os dirigentes do Fed sinalizaram antecipação da alta de juros, em meio à preocupação de que a inflação alta nos EUA pode demorar mais tempo para se dissipar. O índice DXY, que mede o dólar ante divisas principais, bateu em 92 pontos na máxima do dia.

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Neste ambiente, como ressalta um ex-diretor do Banco Central, mesmo com o real tendo registrado o melhor desempenho global ante o dólar nas últimas semanas, hoje teve valorização adicional e o movimento pode prosseguir. Este profissional ressalta que será ainda mais importante monitorar nos próximos dias as declarações de dirigentes do Fed, além de observar a ata das reuniões tanto do Copom quanto do Fomc, nos EUA. /LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO