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Bolsa contraria mau humor de Nova York e avança 1,14%; dólar cai 0,85%

Investidores se voltaram hoje para o desempenho do mercado de trabalho dos EUA, que reforçou as apostas de uma retirada maior dos estímulos por parte do banco central americano

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Por Redação
Atualização:

Apesar do mau humor de Nova York, onde os índices caíram, a Bolsa brasileira (B3) encontrou forças para fechar na máxima do pregão, em alta de 1,14%, aos 102.719,47 pontos, nesta sexta-feira, 7. No exterior - e também por aqui -, os investidores monitoraram de perto o desempenho do mercado de trabalho dos Estados Unidos, o que reforça a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deverá apertar os estímulos em ritmo ainda maior que o esperado. Apesar disso, no câmbio, o dólar cedeu 0,85%, a R$ 5,6315.

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Após a ata da última quarta-feira, em tom considerado mais duro do que o observado no comunicado divulgado pelo Fed em dezembro, a atenção dos investidores se voltou hoje para o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA. A geração de 199 mil vagas de trabalho em dezembro ficou bem abaixo do esperado, mas chamou atenção a taxa de desemprego a 3,9% e o avanço do ganho salarial médio, que mantêm o Fed no caminho de iniciar a elevação da taxa de juros já em março, encerrando então também o processo de retirada de estímulos, conhecido como 'tapering'.

"De um mês e meio pra cá, o Fed parece ter mudado, com o mercado agora formando consenso sobre elevação de juros e finalização do 'tapering' no mesmo mês, em março. A taxa de desemprego foi a grande surpresa hoje do 'payroll'", diz Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset.

Bolsa brasileira contrariou o mau humor de Nova York e fechou em forte alta nesta sexta. Na semana, porém, saldo é negativo. Foto: Werther Santana/Estadão

"A taxa de desemprego ter vindo melhor que o esperado é um vetor bastante forte para a elevação da taxa (de juros de referência dos EUA) ainda em março, com o mercado já precificando em mais de 80% de chance", observa em nota Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos. "A taxa de desemprego fez a sua parte: caiu de 4,2% em novembro para 3,9% (em dezembro), abaixo dos 4,1% esperados e dos 4,0% pela primeira vez desde o início da pandemia, acompanhando o argumento dos membros do Fed de que o mercado de trabalho já está em torno da força máxima", diz Sanchez.

Os principais índices de Nova York caíram, diante da grande probabilidade de o Fed antecipar a retirada dos estímulos. O Dow Jones teve leve recuo de 0,01%, mas o S&P 500 cedeu 0,41% e o Nasdaq, 0,96%. Uma elevação antecipada dos juros irá tornar a renda fixa americana mais atraente, podendo causar uma debandada de recursos do mercado acionário - bem mais volátil -, e também dos investimentos em países emergentes - menos confiáveis.

"Houve queda de taxa de desemprego e alta de salário, o que significa que haverá aumento de juros nos Estados Unidos e, portanto, pressão em emergentes", diz a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, que destaca ainda "imbróglios internos, que ainda estão em cena".

Por aqui, a situação fiscal ainda preocupa neste começo de ano, com pressões do funcionalismo por aumento de salário. Depois de servidores da Receita Federal e do Banco Central, foi a vez dos superintendentes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitarem, em carta aberta, aumento salarial e mostrarem repúdio à reserva de espaço fiscal no Orçamento apenas para reajuste de servidores da segurança pública.

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Apesar do resultado positivo de hoje, as perdas acumuladas entre segunda e quarta fizeram o Ibovespa encerrar a semana com saldo negativo, em recuo de 2,01%. Nesta sexta, mesmo com o ajuste negativo do petróleo após a recuperação recente, o dia foi positivo para as ações de commodities, especialmente para Vale, que subiu 5,82%. Já Petrobras ON e PN avançaram  0,82% e de 0,46%, cada.

As ações de siderurgia também foram bem na sessão, com destaque para CSN, em alta de 4,24%, e Usiminas, de 4,78%. Os grandes bancos, que mantinham desempenho misto na sessão, alinharam-se no azul, com Itaú avançando 2,21% e Bradesco, 1,45%.

Câmbio

O dólar à vista emendou na sessão desta sexta o segundo pregão de desvalorização, rompendo a linha de R$ 5,65, em sintonia com o ambiente externo marcado por perdas da moeda americana em relação tanto a divisas fortes quanto emergentes. Afora uma troca momentânea de sinal pela manhã, quando chegou a trabalhar acima de R$ 5,70, em meio à divulgação do payroll nos EUA em dezembro, a moeda passou o restante do dia em queda firme, renovando mínimas ao longo da tarde.

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Porém, apesar da baixa ontem e hoje, a moeda ainda termina a semana com valorização de 1,00%. Nas mesas de operação, a visão predominante é a de que havia espaço para um movimento de ajustes e realização de lucros no mercado de câmbio doméstico, já que o dólar havia experimentado uma alta rápida e expressiva nos três primeiros pregões desta semana.

Na abertura do ano, investidores teriam adotado postura mais defensiva na esteira das preocupações com a questão fiscal doméstica, em razão da reivindicação de reajuste salarial pela elite do funcionalismo federal, e do tom duro do Fed.

Lá fora, após altas seguidas, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - trabalhou em queda firme, abaixo da linha dos 96 mil pontos, muito em razão do avanço do euro, após a inflação ao consumidor na Zona do Euro subir acima do esperado em dezembro. Com raras exceções, como a lira turca, a moeda americana também perdeu valor em relação às principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities.

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A despeito do alívio nas duas últimas sessões, analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast não veem a possibilidade de uma apreciação maior do real, com a taxa de câmbio se fixando abaixo de R$ 5,60 no curto prazo. A mudança de rota da política monetária americana e a fragilidade fiscal impediriam apostas mais contundentes a favor da moeda brasileira. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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