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Bolsa despenca 3% e dólar sobe a R$ 5,42 com aversão aos riscos aqui e no exterior

Ibovespa registrou maior perda desde 8 de setembro; avanço da inflação global e chance de prorrogação do auxílio emergencial afetaram os ganhos do mercado hoje

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Por Redação
Atualização:

O clima desfavorável no exterior, diante da situação econômica da China, a espera pela redução das medidas de estímulos nos Estados Unidos e o avanço da inflação global, encontrou um cenário local também pouco favorável, com chance de prorrogação do auxílio emergencial e risco de intervenção na política de preços da Petrobras. Em resposta, nesta terça-feira, 28, a Bolsa brasileira (B3) fechou com forte queda de 3,05%, aos 110.123,85 pontos, na maior perda desde 8 de setembro. No câmbio, o dólar subiu 0,85%, a R$ 5,4243, no maior recuo desde 4 de maio deste ano.

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No exterior, o dia foi de forte recuo para os mercados. Na Europa, a Bolsa de Londres recuou 0,51%, Paris, 2,17% e Frankfurt, 2,09%. Em Nova York, a Nasdaq despencou 2,83%, enquanto S&P 500 baixou 2,04% e o Dow Jones, 1,63%. O cenário de aversão aos riscos vem em linha com a alta da inflação global, diante da escassez de insumos, problemas de energia e aumento dos preços que, para complicar, ainda vêm acompanhados de uma redução no ritmo do crescimento das principais economias do mundo. 

O risco de uma crise energética, devido ao recuo nos estoques de carvão, é um dos fatores que motivaram, hoje, uma série de revisões para o crescimento o Produto Interno Bruto (PIB) da China neste ano. A Nomura, por exemplo, agora espera que a China cresça 7,7% em 2021. Antes, sua projeção era de alta de 8,2%. Já o Goldman Sachs também cortou sua projeção para 2021, de 8,2% para 7,9%. O país enfrenta outros obstáculos, como a crise da Evergrande.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão

Já dos Estados Unidos, veio a perspectiva de que a forte inflação já afeta a recuperação da economia. Com isso, investidores estão preocupados sobre quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) irá começar a agir, principalmente após o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizar hoje que os EUA ainda "estão longe" de atingir o máximo emprego, condição vista como essencial para o início da retirada dos estímulos e elevação dos juros, mecanismos que ajudam a controlar a inflação.

"A confiança do consumidor está caindo em um momento em que os preços da energia estão subindo, as cadeias de suprimentos estão cedendo e o inverno está no horizonte", alerta o analista-chefe da CMC Markets, Michael Hewson. Para o economista, há um retorno do temor de inflação nos EUA. 

"Os investidores estão atentos ao cenário de alta das taxas de juros pelo mundo - já se conversa sobre isso e sobre a redução dos programas de estímulos monetários, em meio às preocupações com a inflação global", diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

A inflação também foi assunto por aqui. A ata do Copom manteve a sinalização de ajuste da Selic ao ritmo de 1 ponto porcentual por reunião, pelo intervalo que o Banco Central julgar necessário. Parte do mercado leu a ata como porta aberta para ajuste até mais intenso no ritmo de alta da taxa básica de juros, em terreno já contracionista na avaliação do BC, acima do nível considerado neutro pela instituição - mas que pode ir além, a "um nível significativamente contracionista", apontou o Copom na ata desta terça-feira.

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Em setembro, "teve a crise político-institucional e, quando começou a deixar de incomodar tanto, vieram as preocupações sobre a economia chinesa, a correção do minério de ferro, os problemas da Evergrande e agora também a inflação global", observa Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

O noticiário local também pesou hoje. No cenário fiscal, o governo depende da aprovação do projeto do Imposto de Renda para financiar o novo Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil, em 2022. No entanto, enquanto o projeto ainda está parado no Senado, outras opções estão sendo consideradas. A possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial, fora do teto de gastos, por exemplo, já é estudada pelo governo. Ontem, o ministro da Cidadania, João Roma, disse que a chance de estender o programa "está na mesa". "É preciso que haja um esforço do Estado brasileiro para proteger 25 milhões de cidadãos”, disse.

Além disso, a Petrobras voltou ao noticiário. Hoje, a estatal reajustou em 8,9% o preço do diesel, um dia após o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, dizer que não tem intenção de mexer na política de preços da empresa. Em resposta, em evento ao lado de Jair Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL) cobrou a participação dos governadores na luta contra o avanço dos preços dos combustíveis, alinhando-se ao que vem defendendo o presidente. "Sabe o que é que faz o combustível ficar caro? São os impostos estaduais", disse.

Ele disse ainda que o Congresso vai debater um projeto para fixar valor do ICMS. Bolsonaro, que ontem havia dito que o "remédio para combater a inflação não pode ser só aumentar a taxa de juros", afirmou que ficou feliz em ouvir as palavras de Lira e que a alta dos combustíveis "é o problema do dia". Em resposta, as ações da petroleira, que subiam após o anúncio de reajuste, passaram a cair e fecharam em queda de 0,86% para a ON e 0,66% para a PN.

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Entre as ações, Vale ON caiu 5,01%, Usiminas PNA, 7,27% e CSN ON, 7,84% - o recuo vem na esteira do recuo de 6,08% do minério de ferro no exterior, após subir 7,17% ontem. Na mínima do dia, o Ibovespa bateu nos 109.980,95 pontos - menor nível intradia desde 21 de setembro. Ele acumula queda de 2,79% na semana, 7,29% em setembro e 7,47% no ano.

Câmbio

A combinação de fortalecimento global da moeda americana, em dia marcado por forte correção dos ativos de risco no exterior, com temores de medidas populistas na seara fiscal doméstica, castigaram o real na sessão desta terça. No pior momento, a moeda americana chegou a tocar casa de R$ 5,45, ao registrar máxima a R$ 5,4508, alta de 1,34%. 

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Foi o quinto pregão seguido de fortalecimento do dólar, que já acumula valorização de 1,51% na semana e de 4,88% em setembro. Já o dólar futuro para outubro fechou em alta de 0,66%, a R$ 5,4325.

Nas mesas de operação, já se especula em torno da possibilidade de que o Banco Central possa agir de forma mais incisiva para conter a depreciação do real. Está programado para amanhã o segundo leilão extra de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), da ordem de US$ 700 milhões.

A tensão no mercado acionário, somado as projeções de que o Fed deve cortar os estímulos, em especial subir os juros, já no segundo semestre de 2022, aumentou a procura pela renda fixa americana, o que também pressionou ainda mais o dólar. Hoje, os rendimentos dos papéis do Tesouro americano com vencimento para dez e trinta anos subiram 1,542% e 2,090% cada.

Não bastasse o enxugamento da liquidez global com o tapering, os ativos emergentes, como o real, sofrem com o risco de desaceleração da China. Um pouso forçado da economia chinesa é má notícia para os preços das commodities e, por tabela, para a moeda brasileira. /LUIS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

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