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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O tombo do dólar diante do real

Com queda de 13% frente ao real em 2022, o recuo do dólar pode reduzir os preços dos importados e ajudar a conter a inflação no País

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Atualização:

As cotações do dólar fecharam nesta quarta-feira em seu nível mais baixo em reais desde março de 2020. A moeda recuou 1,44% na comparação diária, a R$ 4,8442. No acumulado do ano, a queda é de 13,2%. 

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Isso acontece apesar dos problemas: inflação de dois dígitos, desemprego de 11%, PIB rastejante, contas públicas anêmicas e incertezas nas eleições deste ano.

Uma das forças que puxam o dólar para baixo são as excelentes condições das contas externas, as que regem as relações do Brasil com o resto do mundo. O saldo em transações correntes, que engloba comércio, rendas e serviços (menos fluxo de capitais) deve fechar o ano em cerca de US$ 20 bilhões negativos, que serão mais do que cobertos por cerca de US$ 60 bilhões em entrada de investimentos diretos. O superávit comercial (exportações menos importações) aponta para alguma coisa em torno dos US$ 65 bilhões, mas pode ser maior, graças ao aumento dos preços internacionais das commodities (mais de 50% das exportações). O Brasil conta hoje com US$ 354 bilhões em reservas externas, o equivalente a 22 meses de importações.

O dólar à vista caiu pelo sexto pregão consecutivo efechou nesta quarta-feiraa R$ R$ 4,8442,menor nívelvalor desde 13 de março de 2020 (R$ 4,8163). Foto: Gary Cameron/Reuters

Outro fator que vem derrubando as cotações do dólar é o tamanho dos juros. A Selic (juros básicos) no momento é de 11,75% ao ano, deve passar a 12,75% ao ano no início de maio, como aponta o Banco Central, mas pode ir além disso nos meses seguintes. Enquanto isso, os juros básicos nos Estados Unidos (Fed funds) estão hoje em 0,25% ao ano, mas não deverão ultrapassar em muito os 2% ao ano até o fim de 2022. Mesmo com a alta dos juros lá fora, o investidor estrangeiro continua propenso a injetar moeda estrangeira no mercado financeiro do Brasil onde pode ganhar mais juros do que paga lá fora.

O dólar bem mais barato não estava no horizonte dos analistas. Eles entendiam que as incertezas que rondam a política econômica e as contas públicas acabariam por prevalecer sobre os fatores que empurram em direção contrária e manteriam as cotações do câmbio acima dos US$ 5 por real. Ainda na semana passada, 65 dos principais analistas consultados pela Pesquisa Focus apontaram o dólar a R$ 5,30 no fim de dezembro.

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Vamos agora às consequências. A valorização do real contribui para reduzir os preços dos importados e, por aí, para conter a inflação. Aos atuais níveis, atua para atenuar a alta dos combustíveis e dos alimentos mais do que a redução de impostos decidida pelo governo.

A indústria de transformação tende a perder mais competitividade, embora possa gastar menos reais no pagamento de sua dívida em moeda estrangeira.

Mas não dá para dizer que o real valorizado aumente as viagens internacionais, porque as passagens aéreas ficaram muito mais caras e a inflação global aumentou os custos do turismo. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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